segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O milagre da coxinha de natal -qq

Dedicado pro Ícarus, meu irmãozinho :3 

Aquela era a oitava partida de dominó que jogávamos e eu já não aguentava mais meu irmão (na verdade, meio-irmão, mas eu odeio esse termo, parece que eu parti o garoto ao meio) ganhando. Eu não havia ganho nenhuma partida e eu não conseguia entender que tipo de macumba ele fazia para conseguir me vencer tantas vezes. Mas o que mais eu poderia fazer para passar o tempo a não ser perder no dominó para o Ícaro?
Era o final de tarde da véspera de Natal, não tinha nada de bom passando na televisão e para completar a internet não estava prestando por causa do mau tempo. Eu poderia estar atormentando minha mãe pra saber o que ela tinha comprado de presente pra mim, mas ela e o sr. Barboza haviam saído para comprar o resto das coisas para ceia (um pouco em cima da hora, não vamos negar) e deixado a casa na responsabilidade do Ícarus, já que ele é quatro meses mais velho que eu (grande coisa).
- Xeque-mate! - ouvi meu irmão dizer ao ganhar mais uma partida
- Isso não é xadrez. - o encarei
- Mas eu cansei de falar "bati".
Deitei no chão, encarando o teto. Estava quase sugerindo que fossemos fazer outra coisa quando a campainha tocou.
- Eu atendo! - gritei, enquanto me levantava em um salto
Abri a porta e me deparei com um garoto coberto de neve que eu conhecia muito bem.
- Você trouxe algo para a gente fazer?
Matheus me encarou no mesmo momento em que perguntei.
- É assim que você recebe as pessoas? - ele riu e nos abraçamos. - E sim, eu trouxe meu x-box.
Fiquei tão feliz por estar livre do dominó que nem me importei de passar as duas horas seguintes jogando video-game. Aliás, eu nunca me importaria de passar as horas seguintes do meu dia jogando, porque, sinceramente, é algo muito bom de se fazer.
Mas o tempo foi passando e nada da minha mãe chegar. Eu estava com fome, muita fome.
- Estou com fome. - falei, enquanto apertava os botões do controle mais forte do que o necessário.
- Quero coxinha. - Ícaro falou e me encarou
Fiquei imaginando a coxinha saindo do forno, quente, com o recheio de catupiry derretendo.
Dei pausa no jogo e suspirei, tentando afastar a imagem da comida de minha mente.
- Por que não vamos comprar, então?
- É! - Matheus disse e pela reação dele eu tive certeza que ele também estivera imaginando a coxinha.
Levantei-me e comecei a vasculhar o bolso do meu moletom, tirando de lá 15 pila e alguns quebrados. Fiz as contas mentalmente e não pude deixar de sorrir: aquilo daria para umas sete coxinhas.
- Devíamos esperar o papai chegar. - Ícarus falou - Ele disse pra gente ficar em casa e se comportar.
- Eles não estão em casa, cara. - Matheus também se levantou - A lanchonete fica daqui a cinco ruas, podemos ir e voltar antes deles chegarem em casa.
- Pense na coxinha, na massa macia e crocante, no frango desfiado se misturando ao catupiry, tudo isso derretendo na sua boca... - falei
- Certo, vamos antes que eles cheguem.
Sorri e abri a porta, saltitando até o jardim. A neve caia sobre a grama e ia se amontoando. Meus pés afundavam a cada passo que eu dava.
Olhei para trás e os meninos vinham conversando sobre alguma coisa. Resolvi ir na frente e continuei saltitando.
Quando cheguei em frente a lanchonete ela estava fechada. Não pude acreditar que eu havia andado até ali para nada.
- Minha coxinha! - choraminguei e abracei Matheus
- Nossa coxinha! - ele choramingou junto
Escutei um baque surdo e me virei a tempo de ver Ícarus se ajoelhando no chão.
- WHY, LORD, WHY? - ele apontava para o céu
Depois de fazermos um pouco de drama, resolvemos voltar para casa.
- Está ficando mais frio. - falei quando faltavam 3 ruas para chegarmos
- Está mesmo. - Matheus concordou
- Corrida até em casa? - sugeri e os dois concordaram.
Corremos e rimos pelas três ruas seguintes. Quando chegamos em frente de casa, Ícarus parou e respirou. Matheus fez o mesmo e eu corri em direção a porta, mas quando tentei abri-la ela continuou no mesmo lugar e eu acabei caindo de costas na neve.
- Onde está a chave? - acabou soando mais como uma afirmação
Ícaro se abaixou do meu lado.
- Você não trouxe? - fiz que não com a cabeça - Estamos presos... - ele deitou na neve
Matheus também deitou na neve e segurou minha mão.
Nós três ficamos ali pelo que pareceu uma eternidade. Estava ficando frio, estava escuro e eu ainda pensava no gosto da coxinha.
- Eu só queria a droga de uma coxinha. - choraminguei - E agora estou na neve morrendo de frio.
Escutei o barulho da porta se abrindo e vi minha mãe nos encarando.
- Vão ficar aí deitados para sempre? - ela falou - Entrem logo, eu trouxe a droga da coxinha.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Um conto de natal

Dedico para a minha Samantha, que me inspirou a escrever isso com as doidices dela <3

Era a tarde da véspera de natal e não havia nada para fazer.
Sentei no sofá perto da janela, abri um pouco da cortina e observei o céu.
- Samantha, venha cá. - falei para a minha amiga, que estava entretida na forma em que o rabo do Michel, meu cachorro, se movia.
- O que é? - ela me encarou - Não vê que estou ocupada?
- Eu faço o favor de deixar você passar o natal com a minha família e é assim que você me trata? - tentei fazer pose de brava, mas acabei rindo.
Sentei no chão, ao lado dela. Fiquei a encarando por algum tempo, tentando fazer com que ela prestasse atenção em mim.
- Tudo bem, Ane. O que você queria me mostrar?
- Não importa mais.- a provoquei
- Importa sim. - Samantha cutucou minha bochecha, o que eu odiava.
Dei um murro de leve em seu braço e nós rimos.
- Acho que vai nevar, sabia? Quer dizer, a moça da TV não para de falar sobre isso e olhe só para o céu!
Ela virou para trás, encarando o céu lá fora. Depois olhou pra mim e fingiu se abraçar e tremer.
- Sem falar que está frio!
Rimos novamente.
- Acho que devíamos fazer alguma coisa. - puxei Michel para perto de mim
- Devíamos ir atrás dos meninos. - Samantha se levantou, parando na minha frente
Fiquei pensando um pouco na ideia. Tudo bem que eu sentia falta do Matheus e provavelmente Samantha também sentia falta do Daniel, mas ir atrás dele seria loucura. Quero dizer, eles estão do outro lado da cidade e nem sabemos o endereço. Seria como procurar agulha no palheiro. E foi exatamente isso que falei para a Samantha e tudo o que ela fez foi continuar parada na minha frente.
- Nós sabemos qual é o bairro e eu tenho uma foto da casa! Não pode ser tão difícil assim!
- E como chegaríamos lá? - indaguei
- De metrô, é claro.
- Acho melhor não... - comecei a falar, mas fui interrompida
- É véspera de Natal, Tauane! - ela começou a gesticular com as mãos - Há pessoas acreditando em milagres de natal neste exato momento. Há pessoas dizendo que amam umas as outras, pessoas se preparando para passar esta noite magica com quem amam! E enquanto isso nós estamos fazendo nada. Sabe o que podíamos estar fazendo? Podíamos estar a caminho de abraçar as pessoas que amamos!
Perguntei-me mentalmente como havíamos chegado neste ponto. E ao mesmo tempo em que me perguntava isso eu sabia que minha amiga estava certa.
- Isso é loucura, você sabe né? - falei, enquanto me levantava. Samantha ficou tão feliz que pensei que seu sorriso iria sair de seu rosto.
Fomos para o quarto e vestimos nossas roupas mais quentes. Coloquei meu moletom do Stitch, calça jeans e meu par de all star preferido. Samantha estava com uma roupa parecida, mas o moletom dela era do Mario.
- Não vai colocar seu gorro? - ela perguntou e eu me virei para minha cama, que estava uma mistura de roupas, cobertas, ursinhos de pelúcia e travesseiros
- Ele está em algum lugar por aqui.
Comecei a procurar pelo gorro, mas não conseguia achá-lo. Criei uma nota mental de que deveria ser mais organizada.
- Não consigo achá-lo. - falei, desistente
- Certo. - Samantha encarou minha cama - Vá pegar dinheiro que eu procuro.
Abri meu cofrinho e peguei todo dinheiro que tinha. No total havia dado 25 reais. Acho que aquilo seria o suficiente. Quando me virei para Samantha ela segurava meu gorro de panda.
- Onde está meu gorro azul? - perguntei
- Só achei esse. - ela colocou o gorro na minha cabeça - Que fica muito fofo em você. Está tudo pronto?
Chequei meus bolsos.
- Celular, chaves de casa e dinheiro. Tudo pronto, senhorita.
Fomos andando em direção a porta, até que minha mãe nos parou. Ela tinha um sorriso no rosto que provavelmente significa "rá, peguei vocês!" e aquilo não era nada bom.
- Onde vocês pensam que vão, mocinhas?
Eu pude jurar que naquele momento ela nos obrigaria a voltar pro quarto, onde sentaríamos e comeríamos chocolate até de noite. Mas aí Samantha começou com seu discurso natalino e minha mãe acabou cedendo.
- Quero vocês em casa antes das oito, certo?
- Certo. - falamos juntas.

Alguns minutos depois estávamos na estação esperando o metrô.
- Cadê essa coisa que não passa. - falei, olhando pro relógio que havia na estação - Já são cinco horas, vamos demorar pelo menos uma hora e meia para chegar lá, desse jeito não chegaremos em casa a tempo.
Samantha me encarou.
- Deixa de ser chata, Tauane. - ela andou pra frente e espiou pelos trilhos a frente - Olha só, o metrô já está vindo!
Ouvi o barulho das rodas deslizando nos trilhos e em seguida o metrô estava na nossa frente. Entramos e sentamos perto da janela.
- Agora pare de se preocupar, já estamos a caminho, certo?
Balancei a cabeça positivamente e fiquei encarando a janela. Depois de algum tempo em silencio começamos a conversar sobre Harry Potter.
Nos distraímos tanto que só paramos de conversar quando percebemos que havia começado a nevar.
- Está nevando! - Samantha falou, sorrindo
Concordei, olhando para os flocos de neve que caiam.
- Está nevando faz um bom tempo. - a mulher que estava sentada na nossa frente falou e depois voltou a prestar atenção em seu jornal.
- Neve, neve, neve, sua linda. - falei, agora sorrindo também.
Mas toda a minha felicidade de ver neve se fora quando o metrô deu um solavanco e parou. Cai de joelhos no chão e Samantha bateu com a cabeça na janela.
- Ai - ela exclamou
Outras pessoas também haviam caído no chão. Em segundos o vagão havia se tornado um caos, com pessoas perguntando o que havia ocorrido, crianças chorando no colo das mães e adolescentes estéricos falando sobre apocalipse zumbi.
- Qual o problema dessas pessoas? - perguntei-me enquanto levantava e sentava de volta em meu lugar
- O que você acha que aconteceu? - Samantha me encarou
- Problemas técnicos, talvez?
Ficamos levantando suposições do que havia ocorrido até que um guarda entrou no vagão e explicou que os trilhos haviam emperrado por causa da neve e que provavelmente demoraria algumas horas para resolver o problema.
- Quem achar mais preferível descer do metrô está livre para fazê-lo. Peço apenas a paciência de todos para que possamos resolver o problema sem tumultos.
Olhei para Samantha e ela me olhou.
- Vamos descer, estamos há duas estações do terminal de ônibus. Podemos andar até lá e depois pegar um ônibus que vá para o bairro dos meninos - falei
- Duas estações daria quanto tempo de caminhada?
- Hum... - tentei calcular tudo mentalmente - Não passa de 15 minutos.
- Era só o que me faltava, ter que andar - Sah se levantou, resmungando
- Não reclama não, eu falei que isso era uma loucura, mas ninguém escuta a Tauane.
Descemos do metrô e Samantha me encarou. Lá fora estava mais frio e mais escuro do que pensávamos. A neve caia fina sobre a grama mal aparada. Caminhamos em silencio para fora dos trilhos até a calçada mais perto.
- Para onde, agora? - Samantha me perguntou, esfregando as mãos uma na outra
- Para o norte. Já consigo ver o terminal daqui.
- Pelo menos isso.
Fomos andando e na medida que a neve continuava a cair mais forte, mais devagar nós andávamos.
- Não vamos chegar nunca. - resmunguei, olhando para frente.
Eu podia ver o terminal, mas estava cansada e com frio. Queria me esquentar e tomar chocolate quente enquanto esperava a hora de celebrar o natal com a família e me preparava mentalmente para o tio chato do pavê ou pacumê.
- Estamos chegando, estamos chegando.
Samantha se aproximou de mim, entrelaçando os braços comigo.
- Para nos mantermos aquecidas. Agora pense em como a casa do Matheus deve ser aconchegante só por ser dele. Pensou? - ela me olhou e eu fiz que sim com a cabeça - Agora use isso como motivação, porque nesse exato momento eu só consigo pensar em como o beijo do Daniel é bom.
Começamos a rir e acabamos tropeçando em um galho, caindo na neve. Estar na neve era divertido. Comecei a fazer anjos de neve enquanto encarava o céu. Eu podia sentir os flocos caindo em meu rosto e aquilo me fazia sorrir. Também me fazia ter mais vontade de chegar na casa dos meninos. Samantha parecia estar sentindo a mesma sensação que eu.
- Me sinto mais esperançosa. - ela falou, levantando-se em um salto - Corrida até o terminal?
- Claro.
Também me levantei e então nós corremos.

Chegamos ao terminal e nos abraçamos, ofegando.
- Nós conseguimos! - Samantha falou, dando pulinhos
- Ainda não, querida. - eu apontei pro ônibus - Vem, temos que entrar naquele ônibus.
Paguei as passagens do ônibus e pedi que o cobrador nos avisasse quando fosse a parada certa. Quando me sentei no banco peguei meu celular. Já eram sete horas. Minha mãe provavelmente nos mataria.
Pensando nisso acabei mandando uma mensagem para o Matheus. "Estou indo para a sua casa junto da Samantha. Não sei onde fica, mas estou indo do mesmo jeito."
Quando terminei de enviar Samantha me encarava.
- O que foi?
- Não é melhor você falar pra ele nos esperar?
Acabei caindo na gargalhada. Quando parei de rir notei que ela realmente falava sério.
- Tudo bem. - peguei o celular e escrevi outra mensagem. "Espere por mim." - Satisfeita agora?
- Sim. - ela sorriu e começou a olhar pela janela. Minha amiga é doidinha das ideias, como diria minha mãe.
Nos minutos que se passaram eu fiquei viajando em meio aos flocos que caiam na janela do ônibus. Fiz isso até que o cobrador nos avisou que nossa parada havia chegado.
Descemos do ônibus e encaramos as dezenas de ruas que haviam ali. Nunca acharíamos a casa dos meninos, ainda mais agora que tudo estava coberto de branco.
- Está pronta? - perguntei para Samantha e ela concordou com a cabeça.
Entramos na primeira rua e fomos andando. Nenhum sinal da casa deles. O mesmo se repetiu pelas próxima 10 ruas.
- Chega, eu desisto. - falei, sentando em uma calçada qualquer
- Desiste porque? - Samantha me entregou o celular dela e na tela havia uma foto do Daniel e do Matheus com uma casa atrás - Não reconhece a casa?
Virei-me para trás e percebi que aquela era a casa da foto. Não pude deixar de sorrir. Aquilo havia sido uma loucura, mas havíamos conseguido.
Antes que eu pudesse me mover a porta se abriu e eu vi Matheus. Ele andou até mim e me abraçou forte.
- Oi. - falei
- Quando eu vi sua mensagem pensei que você ia se perder por aí e eu nunca mais ia ver você. - ele me encarou sério
- Desculpa? - falei, com um meio sorriso nos lábios
- Hum... - ele continuou com o semblante sério, então sorriu e me beijou. Os labios dele me fazendo ter certeza de que eu não poderia ter feito uma loucura melhor.
- Então, vocês vão ficar aí fora ou vão entrar e comer pudim? - Ouvi a voz de Daniel. Ele já estava na porta, abraçado com Samantha.
Adentramos a casa e eu encarei o relógio. Faltavam 10 minutos para as oito da noite. Minha mãe teria que me desculpar, mas de certo modo eu estava em casa.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - III

06 de dezembro de 2016

Querido Amigo,
           Hoje Nate me levou ao shopping.
           Como o natal está chegando ele disse que gostaria de comprar os presentes para a família e eu fui ajudá-lo a escolher. Eu achei interessante o fato dele ter uma lista com os nomes dos membros da família e quando eu perguntei porquê ele havia precisado escrever ele apenas sorriu e falou:
            “É para não esquecer.”
            Ele piscou para mim com o olho esquerdo e nós fomos as compras. No final tínhamos muitas sacolas, mas foi divertido, porque sempre que eu escolhia alguma coisa ele achava que outra seria mais interessante e acabava que escolhíamos outro presente para a pessoa. Brigamos muito por causa disso também, mas foi aquele tipo de briga boa, que te faz gargalhar.
          O shopping estava todo enfeitado para o Natal. Aliás, acho que esse mês de dezembro todo gira em torno do Natal e isso tem mexido com a minha cabeça.
          Quando Nate e eu terminamos de fazer as compras ficamos sentados em um dos banquinhos observando os pisca-piscas e toda aquela decoração. Tudo o que me veio em mente enquanto fazíamos aquilo é que eu TENHO que fazer algo de especial neste Natal, porque ele vai ser o último. E não me pergunte por que eu acho que ele será o último, é apenas algo que eu estou sentindo aqui dentro de mim.
           De qualquer maneira, isto está na minha cabeça e eu não consigo dormir. Quero que esse natal seja perfeito, preciso que ele seja perfeito e eu não sei como fazê-lo.
           Quando eu contei sobre isso para o Nate, ainda no shopping, ele sorriu e disse que tinha uma coisa para mim. Então ele me guiou até uma loja e tampou meus olhos.
           “Não vale espiar” Ele disse enquanto me guiava entre as prateleiras.
           Quando ele tirou as mãos de meus olhos eu estava em frente ao ursinho de pelúcia mais fofo de todos. Pode parecer que eu sou uma boba, mas eu sou apaixonada por ursinhos de pelúcia e tenho uma coleção deles.
            “Esse vai ser especial.” Nate falou “Quero que você cuide muito bem dele, pois é um urso de natal e eu realmente espero que ele faça com que você escolha a melhor coisa para tornar seu natal mais especial”.
              Não pude evitar sorrir com aquilo, apesar de que até agora o urso não fez com que eu decidisse o que preciso fazer. Minha cabeça só tem ficado mais confusa.
              Conversei com o Nicolas sobre isso e ele me falou que talvez eu esteja ficando paranoica. Acho que ele tem razão, por isso decidimos começar um jogo, um pouco sem nexo, mas que me faria desviar um pouco a atenção em questão a tudo isso.
               O jogo é bem simples: toda vez que alguém falar não para você, você grita “morre”. Então eu perguntei se ele achava que aquilo funcionaria e ele respondeu que não.
             Adivinha o que eu falei? MORRE! 

                                                                                                 Com amor,
                                                                                                          Cassie. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Um natal longe de Hogwarts

Acordei quando os primeiros raios de sol adentraram a janela do dormitório. Lá fora eu podia ver Hogwarts coberta de neve, cujo qual começava a derreter com a manhã.
O relógio na cabeceira da cama marcava cinco horas e quarenta e cinco minutos. A maioria das pessoas ainda dormiam, despreocupadas.
Levantei-me e senti o frio que fazia fora de minhas cobertas. Peguei meu cachecol listrado azul com bronze, para combinar com as cores da Corvinal, e uma touca azul-meia-noite.
Depois de ter certeza de que estava aquecida o suficiente comecei a arrumar minhas malas. Eu sentia falta de minha família, e por mais que quisesse ficar em Hogwarts, neste ano eu deveria ir para casa.
Terminei de guardar meus pertences na mala e desci para o Salão Principal. A decoração de Natal estava excepcionalmente linda, havia pisca-piscas em todos os lugares, sem contar o enorme pinheiro cheio de bolinhas vermelhas, azuis, verdes e amarelas.
Acho que fiquei um bom tempo parada na porta de entrada observando os pisca-piscas, porque quando me dei conta Serena e Mayara estavam paradas na minha frente, gesticulando freneticamente as mãos para que eu prestasse atenção.
- Tá viva? - Mayara perguntou e eu a olhei.
- Desculpe, zonzóbulos. Sabe como são, né?
Ela concordou com a cabeça.
- Só queria saber se você vai para casa hoje. - Serena falou, com um sorriso amigável.
- Vou sim. - sorri de volta - Prometi para o Matheus que o acompanharia.
- Saquei. Neste caso, nos vemos depois da pascoa.
As duas me abraçaram e depois foram em direção a mesa da Grifinória. Fiquei mais alguns segundos observando a decoração de Natal e pensando se minha mãe havia montado a árvore esse ano.
Comecei a perceber que o Salão Principal estava enchendo. Com toda a certeza eu passaria minha noite de Natal lembrando daquele lugar.
Caminhei até a mesa da Corvinal e percebi que Matheus já estava lá. Sentei-me ao seu lado e ele me olhou, beijando-me em seguida.
- Pronta para ir pra casa?
- Hogwarts é a minha casa. - respondi, olhando para as torradas em meu prato.
Matheus segurou minha mão e a apertou de leve.
- Nos encontramos no Salão Comunal daqui a uma hora, ok?
Concordei com a cabeça, peguei uma das torradas e me levantei, correndo em direção a cabana de Hagrid.
Quando cheguei bati na porta três rápidas vezes e o meio gigante a abriu.
- Tauane, que surpresa! - Hagrid me abraçou forte e me convidou para entrar.
Sentei-me em um dos bancos de madeira enquanto o chá era servido.
- Ao que devo a honra de sua visita? - ele também se sentou em um dos bancos de madeira
- Eu estou com medo. - falei entre um gole e outro de meu chá - Nunca voltei para casa desde que vim para Hogwarts. Já fazem três anos.
- Do que tem medo? Sua família deve sentir sua falta.
- E eu sinto a falta deles. - encarei meus pés
- Então qual é o problema, pequena?
- Hogwarts foi o único lugar em que eu me senti aceita. E se eu não puder voltar?
Hagrid riu e eu o olhei, confusa.
- Hogwarts é o seu lar. E um lar sempre espera por você.
Não pude deixar de sorrir ao ouvir aquilo. Quando voltei para o Salão Comunal da Corvinal, Matheus esperava por mim.
Peguei minha mala, segurei na mão de Matheus e juntos atravessamos os corredores de Hogwarts. Lá fora a neve havia voltado a cair, por mais que alguns raios de sol insistissem em atravessar as nuvens.
Continuamos a andar, e eu juro, não olhei para trás, eu sabia que em breve estaria de volta.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - II

23 de novembro de 2016

Querido Amigo,
          Hoje foi um dia muito triste. Não que os outros não tenham sido, não me entenda mal, mas este foi pior.
           Voltei a ir para a escola. Meu pai me deixou lá de carro, ele ainda tem medo de que eu me esqueça para onde vou e acabe me perdendo por aí, mesmo que os médicos tenham dito que isso provavelmente não voltará a ocorrer.
            Quando desci do carro fiquei um pouco confusa, porque não me lembrava de onde era a minha sala de aula. Mas tudo bem, porque antes eu precisava contar aos meus amigos o que estava acontecendo. Foi aí que o dia ficou muito triste. Acho que eu nunca havia visto Hazel chorar tanto como quando eu a contei. E depois Geórgia e Sam se juntaram a ela. As três me abraçaram e nós choramos juntas por um bom tempo, até o sinal tocar.
            Foi aí que eu contei a Hazel que eu havia me esquecido de onde era a nossa sala de aula, e em vez de chorar, ela riu. Abraçou-me forte mais uma vez e simplesmente disse:
            “Acho que isso foi a melhor coisa que você me falou hoje”.
             Então ela me levou para fora da escola e matamos os dois primeiros horários em uma lanchonete que tinha ali perto. Não vou mentir e dizer que nunca havia feito aquilo antes, porque era algo comum para nós, mas naquele momento era diferente. Era um momento só nosso, porque acho que ela também tem medo de que eu me esqueça dela.
             Depois disso voltamos para a escola e eu não havia feito nenhum dever de casa. Acho que meus pais já haviam conversado com os professores, porque nenhum deles me deu sermão por não ter feito nada. Talvez o Alzheimer tenha seu lado bom. Bem, foi o que eu pensei até chegar em casa.
              Nate foi comigo até minha casa. Ele disse que faria isso todos os dias, porque se preocupava comigo e queria me ver bem. Aquilo me deixou muito feliz, então eu o beijei e perguntei se ele gostaria de jantar comigo esta noite. Ele aceitou e nós entramos em casa.
              Meus pais não estavam em casa, como sempre eles chegariam tarde, pois o trabalho exige muito deles. Desde o ano passado minha irmã tem morado com o namorado, então eu fico a maior parte do meu tempo sozinha.
              De qualquer jeito, quando chegamos subimos ao meu quarto para deixar as mochilas. Era a quinta vez que Nate ia a minha casa, então ele já sabia o caminho. Não que eu tivesse me esquecido. Em fim, quando cheguei a meu quarto fiquei surpresa porque havia um cachorro ali e eu não me recordava de ter nenhum animal de estimação.
             Perguntei se Nate sabia sobre o cachorro e ele me olhou de uma forma que me dói só de lembrar. Então ele se sentou na cama, me puxando para o seu lado, e disse-me que aquele era meu cachorro Nick e que já faziam cinco anos que ele estava comigo.
             Não consegui me conter e comecei a chorar.
             “Está tudo bem, não precisa chorar.” Nate falava enquanto me abraçava.
             Quando eu me acalmei nós dois descemos para a cozinha e fizemos o jantar: macarrão com almôndegas. Nate fez a maior parte, porque eu nunca soube cozinhar. Estava muito gostoso, talvez até melhor que o hambúrguer de bacon.
              Agora eu estou sentada na varanda do meu quarto junto de Nate. Ele que me deu a ideia de te escrever agora, porque eu contei de você para ele e ele acha que a nossa primeira refeição cozinhada juntos é uma memória muito importante. E ele tem razão, é uma memória que eu não quero esquecer.

                                                                                                                    Com amor,
                                                                                                                                   Cassie.

As Memórias de Cassandra - I

18 de novembro de 2016

Querido Amigo,
           Estou escrevendo porque não quero esquecer. Eu sei que isto não deve estar fazendo muito sentido para você, já que não me conhece, mas eu preciso saber que existe alguém capaz de guardar minhas memórias.
            E não me pergunte o porquê, mas eu acho que você entenderá o que anda se passando comigo e acolherá minhas memórias. Antes que eu me apresente peço que, por favor, não responda as cartas. Eu provavelmente me esquecerei disso também.
            Meu nome é Cassandra, tenho 16 anos e sofro do Mal de Alzheimer.
            Quando eu tinha 13 anos costumava esquecer muito as coisas. Esquecia o dever de casa, o que havia comido no jantar de ontem, em que dia tal coisa havia acontecido. Pareciam coisas normais de se esquecer, acho que ninguém realmente imaginava o que estava para acontecer. Exceto Near. Acho que no fundo ele sempre soube, por isso sempre falava sobre o Minotauro que vivia em minha cabeça, sempre comendo minhas memórias. Ele me dizia para ser forte, que com uma memória feliz o suficiente eu mataria o Minotauro.
            O dia em que eu descobri que o Minotauro na verdade era uma doença foi horrível. Foi semana passada, na sexta-feira. Eu havia saído da escola e estava indo em direção à parada de ônibus quando me esqueci de onde morava. Isso mesmo, eu simplesmente me esqueci. Lembro-me de ter ficado olhando para as pessoas em minha volta, atônita, até começar a chorar. E chorei muito, porque estava sozinha.
            Desde sexta-feira meus dias tem sido tortuosos. Fiz muitos exames para que os médicos tivessem certeza de qual era o meu problema e então, depois de três dias, eles me contaram sobre o Mal de Alzheimer. Lembro de ter chorado muito nesse dia.
            Aliás, desde que tudo aconteceu, eu só tenho chorado. Mas tem esse garoto, o Near. Como eu já falei antes, eu o conheci quando tinha 13 anos e me apaixonei perdidamente. Claro que naquela época eu ainda não entendia muito bem o que estava sentindo, mas agora eu entendo. Entendo que o amo. Acho que ele é um dos motivos de eu estar escrevendo, não quero esquecê-lo nunca. Ele tem me ajudado muito, como sempre me ajudou. É um ótimo namorado, uma ótima pessoa, e acima de tudo, um ótimo amigo. Eu gostaria que você o conhecesse, tenho certeza que o amaria tanto quanto eu.
            Uma das coisas que eu mais gosto do Near é de quando ele me leva para a Praça dos Três Anjos. Fica perto de nossa escola e fazemos isso desde que nos conhecemos. Nós ficamos lá fazendo nada a maior parte do tempo, mas é muito divertido estar com ele. Eu fico observando a forma que ele sorri, o jeito que ele fala e como ele costuma me olhar quando eu conto alguma história de algum livro que li. Gosto muito também de quando ele me abraça e do cheiro dele. Não quero esquecer o cheiro dele.
              Vou ter que parar de escrever agora, porque estou chorando muito novamente e não quero que a folha chegue toda enrugada até você. Desculpe-me por isso.
             
                                                                                                              Com amor,
                                                                                                                             Cassie.

Vende-se

Vende-se um baú cheio de sentimentos
Há um pouco de infância,
a tempos vivida.
Um muito de amor,
que ainda sinto dentro de mim.
Há também saudade,
de uma tarde chuvosa cheia de felicidade.

Vendo porque quero esquecer,
mas vendo acima de tudo
porque ainda gosto de você.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Um conto sobre o amor de um mortal

Ele havia sonhado com ela novamente. Dessa vez o sonho ocorria em uma sala branca, com duas poltronas. Ele estava sentado em uma delas e em sua frente, sentada na outra poltrona, estava ela: a mulher de longos cabelos castanhos, olhos azuis e uma beleza que só podia ser descrita como divina.
Como das outras vezes que sonhara com ela não conseguia dizer nada. Abria a boca para chamá-la, perguntar qual era seu nome, conhecer mais daquela mulher. Mas sua voz não saia. Era como gritar no vácuo e aquilo o frustrava.
Cerrou os punhos, visivelmente irritado. Tentou falar mais uma vez e conseguiu o mesmo resultado frustrante de antes.
Dessa vez ao cerrar os punhos acabou esmurrando o braço da poltrona. A mulher riu daquela cena, mas ao contrario do que acontecia com ele sua risada havia se propagado por toda a sala.
Ele a encarou, os olhos brilhando, encantado por aquela risada tão espontânea. Sentiu vontade de levantar-se na mesma hora e beijá-la, mas tudo o que conseguiu fazer fora acordar.

Naquele dia ele fora para a faculdade cansado. Por algum motivo seus sonhos o deixavam assim, sem vontade de viver. Tudo o que desejava era encontrar aquela mulher.
Não prestava atenção na aula até que o professor tocou no nome de uma deusa grega chamada Afrodite. Reparou nas fotos do telão e pensou em como aquela deusa lhe parecia familiar.
Quando chegara em casa havia conseguido cair no sono rapidamente.
Em seu sonho estava em um parque repleto de arvores e flores cor-de-rosa. O local cheirava a canela e a hortelã.
Ele a encontrou sentada em um balanço velho de madeira. Ela trajava uma túnica branca com um cinto de ouro trançado e sandálias gladiadoras. Seu cabelo estava preso com uma coroa de flores.
Ao vê-la daquele jeito as palavras do professor ecoaram em sua mente: "Afrodite, a deusa grega do amor e da beleza." Ela era. Só podia ser ela.
Caminhou em sua direção, um leve sorriso aparecendo em seus lábios. Quando estava perto o suficiente pôde notar a aura de poder que ela emanava.
Ajoelhou-se em sua frente, os pensamentos perdidos naqueles olhos azuis tão profundos.
- Lucas, meu doce Lucas. - ela falou, a voz tão bela quanto podia ser - Não tens medo de se apaixonar por uma deusa?
O garoto passou alguns segundos para raciocinar que ela havia lhe feito uma pergunta.
- Não. - respondeu diretamente e sorriu ao perceber que conseguia falar - Não tenho medo. Parece ser a coisa certa. Você é a mulher dos meus sonhos. - ele fez uma pausa - Literalmente.
Afrodite gargalhou, divertida com o que o garota falara.
- Sabes o quão difícil pode ser um amor entre uma deusa e um mortal? - perguntou assim que parou de gargalhar
- Sei.
Então ele a beijou. Um beijo doce e inocente que mudara a sua vida para todo o sempre.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

One-shot: The Ballad of Mona Lisa



O garoto levantou-se da cadeira acompanhado de um longo suspiro. Sacudiu a poeira da calça e começou a andar em direção ao salão principal, onde aconteceria o enterro de seu pai.
Enquanto caminhava pelo longo corredor passou em frente ao quarto de Mona Lisa. A porta estava entre-aberta e a garota pintava as unhas da mão de preto. Em seu redor havia algumas garrafas de gim vazias.
Balançou a cabeça, tentando tirar a imagem da garota da cabeça, e voltou a andar em direção ao seu destino final.
O salão principal estava decorado no tom preto, de acordo com a situação. No palco havia uma faixa escrita "Que Deus perdoe os vossos pecados" e o caixão de seu pai, aberto, mostrando o corpo pálido do homem.
Faltava ali a presença de poucas pessoas . Resolveu sentar-se em uma das mesas e isolar-se um pouco. Não queria receber a caridade das pessoas naquele momento.
Já havia se passado dez minutos quando as duas últimas pessoas chegaram. Uma delas era Mona Lisa. Ela trajava um longo vestido preto de camurça que deixava seu ombro nu. Seu cabelo escuro e encaracolado estava preso em um coque alto e desregular. As bochechas vermelhas mostravam uma possível embriaguez e ela parecia incrivelmente calma. Uma aparência tão inocente... Tudo o que ele sentia era uma vontade incontrolável de abraçá-la, mas ele não podia. Tinha que se controlar, só havia uma chance. Sentia-se um pouco culpado, mas não havia nada de errado no fato dela pagar pelos pecados que cometeu.
O padre iniciou o velório falando sobre o reino de Deus. Após todo o falatório chamou Gabriel ao palco para um breve discurso.
O garoto repetiu o ato de levantar-se da cadeira acompanhado de um longo suspiro. Sacudiu a poeira da calça e subiu ao palco.
De cima pôde observar o rosto de todos os moradores da cidade. Tudo deveria ser como ele havia planejado.
Mais um longo suspiro.
"Meu pai foi assassinado. - foi direto ao ponto, e como esperado, ninguém pareceu se surpreender - Assassinado por nossa querida Mona Lisa."
A garota observava tudo com um semblante calmo. Ah, como ele pagaria para vê-la preocupada...
"Um crime muito bem elaborado, devo dizer. Merece os meus parabéns, querida. - ele continuou a falar - Afinal, não é fácil fazer com que todos da cidade colaborem em matar o seu fundador. Me diga, Mona Lisa, como você o fez? Convenceu nossas anfitriãs a darem aquela festa, convenceu o medico a fornecê-lhe veneno, convenceu a padeira a colocar o veneno no bolo, convenceu a cantora a oferecer o bolo ao meu pai. E não paremos por aqui, você continuou convencendo muita gente. Convenceu o legista a trocar a causa da morte, convenceu o detetive a não procurar mais sobre o caso e convenceu a mim de que seria melhor assim. E esqueça aquela parte em que eu perguntei como você o fez, porque está claro como água para mim. Você está garantida para mandar nesta cidade. - as lembranças daquela noite vieram em sua mente, Mona Lisa havia lhe contado que seu pai estava morto e tudo o que ele pensou foi em beijá-la. Ele começa a sentir algo, chama isso de desespero- Diga o que você quer dizer, diga-me que estou certo. Me dê um sinal, eu quero acreditar."
Gabriel a olhou, já não procurava mais um sinal de que seu palpite estivesse certo, queria apenas saber se aquele beijo realmente havia significado algo para ela.
E parada em pé no canto da sala, Mona Lisa apenas sorriu, como se tivesse planejado tudo aquilo. Se ela tivesse as palavras certas para dizer, diria à ele. Mas ela não tinha mais nada para vender à ele.
"Estou satisfeito em satisfazer você." Ele pronunciou baixo e então desceu do palco. Suas palavras nadando em seus ouvidos, novamente.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cinco pilulas, cinco memorias.

Ela parou em frente ao espelho, ajeitando-se uma última vez. O vestido preto de renda lhe caia muito bem e contrastava com o cordão em seu pescoço.
Passou mais algumas camadas de rímel nos cílios e soltou o cabelo, que caiu sobre seu ombro em cachos de um tom azul desbotado.
Mais uma olhada em seu próprio reflexo e estava pronta. Caminhou em direção a cama e sentou-se na mesma, em frente as cinco pilulas de algum remédio tarja preta que havia custado a conseguir dias atrás.
Cinco pilulas, cinco memorias.
Respirou fundo e tomou a primeira. Era uma memoria antiga, de sua infância. Estava sentada na garagem de casa, observando a rua vazia. Não costumava ter amigos naquela época, então ela havia o inventado, com aquele sorriso encantador e os olhos pretos profundos. Ele a fazia companhia em seus momentos de solidão, estivera ali por muito tempo, até os seus oito anos.
Tomou a segunda pilula e lembrou-se de como se sentia antes de tê-lo encontrado de verdade, sem ser em seus devaneios de criança solitária. Ela havia estado perdida por muito tempo.
A terceira pilula lhe trouxe a memoria da primeira vez que o encontrou. Estava na escola, a principio não reconhecera aquele sorriso que tanto a acalmara a tempos atrás.
Suspirou, as lagrimas teimando em escorrer pelo seu rosto. Tomou a quarta pilula, não poderia mais voltar atrás agora. Lembrou-se dos momentos com ele. Do abraço dele a reconfortando nos piores momentos, da voz dele a fazendo rir, do formigamento que sentia nas pontas dos dedos toda vez que o beijava.
Então tomou a quinta pilula e era como se ele estivesse ali com ela, segurando sua mão, fazendo-a acreditar que tudo daria certo.
Deitou-se na cama, apegando-se aquela última lembrança. Havia chegado a hora, ela sabia. Então deu o seu último suspiro e fechou os olhos.

Um conto sobre a primavera

O sol desaparecia no horizonte, deixando o céu em uma mistura encantadora entre o azul escuro e o alaranjado. Fazia frio naquela quase-noite de primavera, os ventos úmidos da recente chuva ainda sopravam fortes, trazendo aquele cheiro de terra-molhada consigo.
Nico estava sentado no telhado de sua casa observando o céu, ele segurava uma rosa azul e perdia-se em seus pensamentos quando escutou a voz dela o chamando. Olhou para os lados, procurando por Talissa. Estava confuso. Como ela poderia estar ali?
- Uma ajudinha aqui, por favor. - ele escutou e novamente começou a procurar - Aqui em cima, seu baka.
Foi então que ele a viu, segurando-se firme em uma arvore para não escorregar, esforçando-se para chegar até onde o garoto estava. Antes que Nico pudesse se mover ela conseguira sentar ao lado dele, ofegante. Os cabelos caiam em seu rosto em um emaranhado azul e as maçãs de suas bochechas estavam vermelhas.
- De onde você veio? - Ele perguntou, encarando-a
- Do céu, oras.
Talissa colocou uma mecha de seu cabelo para trás, e sorriu, como se aquilo fosse a coisa mais normal de todas.
- Você não veio do céu. - ele respondeu, um meio sorriso aparecendo em seus lábios - Não tem como você ter vindo do céu.
- Eu sou um anjo, esqueceu?
- O meu anjo?
- O seu anjo.
Agora o céu já havia caído em um azul profundo. A lua minguava alta, com algumas poucas estrelas.
Nico estendeu a rosa azul para Talissa, que a pegou como se fosse o maior tesouro de toda a sua vida.
- Estou feliz por você ter voltado. - ele falou, segurando a mão da garota
- Eu também.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Anjos e o amor

O sangue escorreu por suas costas quando as asas brancas nasciam de dois pequenos cortes, há muito tempo já cicatrizados.
À medida que as primeiras penas iam saindo, em seu esplendor de plumagem branca, a dor aumentava. No começo era suportável, mas quanto maior as asas ficavam mais a dor a torturava. Podia sentir as lagrimas quentes em suas bochechas, a visão embaçada impedindo-a de decifrar as formas que a rodeava.
Ajoelhou-se no chão frio, levando as mãos as costas em uma tentativa desesperada e falha de evitar aquilo. Mas tudo o que a garota sentia era o calor de seu sangue contra sua pele. E as duas asas iam crescendo, em toda a sua inocência e dor.
E depois de alguns instantes, que pareciam mais um infinito, a dor cessou. E com o final da tortura veio o sentimento de calmaria.
A garota agarrou-se a ultima lembrança boa que ainda lhe restava e levantou-se, olhando para o céu azul. Caminhou em direção a imensidão, um pé de cada vez, sentindo a poça que seu próprio sangue havia se formado.
E quando sentiu que algo a esperava lá em cima, levantou voou. As lembranças do que a garota já fora um dia retornavam a tona, fazendo-a recorda-se de que o infinito era maior do que instantes e de que instantes apenas os humanos entendiam, em sua vida frágil e perversa.
Talvez ela fosse sentir falta dos sentimentos trazidos em seus dias de queda. Daquela última lembrança boa  a qual se agarrada em seu momento de dor: aquele garoto que tanto a cuidara.
Mas agora ela estava retornando ao seu único e verdadeiro lar. Voltava a entender o verdadeiro significado da paz e lamentava-se por não podê-lo ensinar para aquele garoto de sorriso fácil.
Deveria agora, acima de tudo, dedicar-se a sua nova missão. Se estava sendo chamada de volta era porque seus pecados haviam sido redimidos e uma nova chance havia sido dada. Era uma pena, que para isso, ela precisasse abrir mão de sua vida humana.
Mas veja só, que surpresa aquele antigo lugar lhe trazia. Sua missão era cuidar daquele que a ensinara a cultivar o mais puro sentimento humano: o amor.

sábado, 7 de setembro de 2013

Mais um da série: perdidos e achados :P

Eu gosto da voz dele e de como eu me sinto bem quando o escuto falar. Gosto do cabelo dele, da pele e do sorriso. Gosto do formato da boca dele. Gosto de quando ele me olha. Gosto das feições dele. Gosto de quando ele é tímido. Eu gosto do cheiro dele e de como eu o sinto toda vez que penso nele. Eu gosto de pensar nele. Gosto de quando ele anda com as mãos nos bolsos. Gosto de como ele me decifra com tanta facilidade. Eu gosto quando ele está ao meu lado. Gosto quando ele é sincero comigo. Eu gosto das mãos dele e de como me sinto bem quando as seguro. Gosto do abraço dele e da vontade que eu tenho de não soltá-lo nunca mais. Eu gosto quando ele tira o meu sono e também gosto quando sonho com ele. Gosto de como ele consegue tornar o meu maior medo em algo tão comum. Eu gosto quando olho para o céu e lembro dele. Gosto quando eu olho para qualquer lugar e lembro dele. Gosto de lembrar dele. Eu gosto quando ele cita trechos de minhas histórias e gosto quando ele me ajuda a escrevê-las. Gosto de escrever histórias para ele. Eu gosto de como ele me faz sorrir. Gosto do frio na barriga que eu sinto toda vez que ele se aproxima. Eu gosto de ser dele. E eu gosto dele e gosto de gostar dele.

sábado, 24 de agosto de 2013

Por enquanto, sem titulo

Acordei com Nico me chamando. Abri os olhos devagar e percebi que o carro estava parado embaixo de uma arvore.
- Acorde, a gente já chegou. - Nico disse me dando um beijo na bochecha e saindo do carro.
Demorei alguns segundos para assimilar que eu havia passado uma viagem de duas horas e meia dormindo. Desci do carro ainda sonolenta e observei tudo ao meu redor. O local era bem grande, havia uma placa de madeira escrita: "Sejam bem-vindos ao Hotel Fazenda Doze Flores", uma casa de três andares de madeira, um campo de futebol, um pomar, um celeiro, duas piscinas de água natural e um local coberto com churrasqueira e piscina aquecida. O local continuava para trás, mas eu não conseguia ver o que havia mais para lá.
Me aproximei de onde Nate, Lyanna e Nathalie estavam.
- Então a bela adormecida acordou. - Nate disse, rindo.
- Não, não. - Lya se intrometeu - Não vê que a Talissa ainda está dormindo?
Comecei a rir e fui andando em direção ao hotel. Nico e Daniel já estavam lá dentro conversando com a recepcionista: uma mulher de quarenta e poucos anos, com os cabelos pretos e os olhos cinzas.
- E essa deve ser a Talissa. - ela sorriu para mim e eu pensei em como ela tinha me reconhecido.
- Sim. - dei um sorriso de lado - Você deve ser a Marie, certo? Foi com você com quem eu conversei no telefone?
A mulher concordou com a cabeça e foi para trás do balcão.
- Eu fiquei muito feliz quando soube que vocês viriam, isso será perfeito. - ela pegou duas chaves em uma caixa - Aqui estão as chaves dos quartos, são as duas primeiras portas do segundo andar.
- Obrigada. - agradeci e peguei as chaves.
Peguei minha mochila e subi para o quarto junto com Lyanna e Nathalie, havíamos decidido que seria um quarto só para meninas e o outro para os meninos.
Joguei minhas coisas na cama perto da janela e sentei-me no chão, suspirando.
- O lugar parece ser bom. - Nathalie comentou, olhando pela janela.
- Tenho que concordar, estou animada para explorar mais. - Lyanna sorriu - E isso me dá uma ótima ideia. Chamem os meninos e me encontrem perto da churrasqueira.
Fiquei observando minha amiga sair do quarto e depois me levantei. Nathalie já havia ido chamar os garotos, então tudo o que eu precisava era ir até a churrasqueira.
Caminhei até a escada, sem prestar muita atenção e quando percebi havia esbarrado em alguém.
- Cuidado por onde anda, Talissa.
Olhei para a pessoa que eu havia esbarrado. Era um garoto um pouco mais novo que eu, ele tinha os cabelos loiros e os olhos cinzas, como os de Marie.
- Me desculpe... - falei, voltando a descer as escadas.
O garoto ficou me olhando até que eu saísse de dentro do hotel.

Caminhei até a churrasqueira, onde todos já estavam.
- Finalmente, pensei que você estivesse dormindo. - Nathalie brincou
- De novo. - Nate acrescentou.
 Puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Daniel.
- Então, o que tem em mente? - encarei Lyanna, que se levantou
Ficamos em silencio por alguns segundos até que Daniel começou a rir. Bem, se eu já suspeitava que ele não era nada normal agora eu tinha certeza.
- Daniel, você poderia parar de rir? - Lya o encarou até que ele ficou quieto - Ótimo. Como vocês sabem este local é bem grande. Eu estava dando minhas olhadas e decidi que devemos explorar a área em preservação.
Ela esperou para ver nossa reação. Apenas ficamos a encarando, até que ela continuasse.
- Conversei com alguns funcionários e descobri que há um rio aqui perto. E também há uma cachoeira. - Lyanna parecia muito animada - Então, como ainda são quatro horas da tarde eu estava pensando que poderíamos ir lá agora. O que acham?
- Parece bom. - Nathalie disse, se levantando
- Então nós mal chegamos e já vamos para o meio do mato? - Daniel também se levantou, rindo.

Agora estávamos dentro de uma floresta, seguindo uma trilha que de acordo com a Lyanna deveria nos levar até uma cachoeira e tudo o que eu conseguia pensar era no barranco que havia na beira do rio a qual havíamos passado antes de entrar na floresta. Aquele parecia realmente um bom lugar para ler.
Fiquei tão distraída que não percebi que havíamos chegado a cachoeira até que o Daniel me empurrou para dentro da mesma. Já falei que odeio esse garoto? Pois é.
Sai da cachoeira encharcada. Meu casaco estava tão molhado que em vez de me esquentar me fazia tremer de frio.
Sentei na grama, me encolhendo.
- Estamos indo ver o que tem de bom para lá. - Nathalie gritou enquanto corria para dentro de uma trila com Lyanna.
Tirei meu casaco e deixei ao meu lado. Nate e Daniel haviam entrado na cachoeira e agora brincavam de lutinha usando gravetos como espadas.
- Está com frio? - Nico sentou ao meu lado.
- Um pouco. - respondi, encarando o céu
- Pegue. - ele me ofereceu o casaco dele e eu vesti no mesmo instante.
Ficamos observando os meninos brincarem até que escutamos um grito.
- Isso foi a Nathalie? - Nate perguntou, saindo da cachoeira.
Corremos pela trilha que as meninas haviam ido até as acharmos. Nathalie estava encolhida embaixo de uma arvore enquanto Lyanna encarava o resto da trilha.
- O que  foi? - Daniel perguntou, se aproximando. - Meu Deus, vocês gritaram por causa disso?
Me aproximei dos dois para checar. Havia uma coruja morta perto de Lyanna.
- Não é apenas "isso".
Lya apontou para frente e foi então que eu reparei: Não havia apenas uma coruja morta, haviam varias.

Na manhã seguinte Nathalie não quis se levantar da cama. Ela estava pálida, os cabelos cacheados sem vida e os olhos perdidos.
- Vamos Nath, temos muito o que fazer! Ainda não fomos nas piscinas! E podemos andar de cavalo!
Lyanna tentava fazer com que Nathalie se levantasse, mas ela apenas se limitava a nos encarar e sussurrar algo incompreensivo.
Me aproximei dela e coloquei minha mão em sua testa.
- Ah Nathalie... - falei baixo - Você está ardendo de febre.
Dei alguns remédios para ela e esperei com que ela caísse no sono. Depois desci até o restaurante com Lyanna, onde os meninos nos esperavam.
- Porque demoraram tanto? - Daniel perguntou, nos encarando - Estou com fome e a culpa é de vocês.
Sentei ao lado de Nate e peguei o cardápio.
- Nathalie está doente. - Lyanna falou, sem prestar muita atenção.
Uma funcionaria do local veio nos atender. Ela parecia bem velha para estar trabalhando, mas não comentei nada.
- O que desejam para o café da manhã, queridos? - ela deu um sorriso simpático
- Bacon, pão e ovos mexidos. - Daniel falou, encarando a mulher.
- E suco de laranja, cookies e sanduíches de frango. - Nico completou.
A mulher terminou de anotar o pedido e caminhou em direção a cozinha.
- Então, o que a Nath tem? - Nate perguntou
Respirei fundo e o olhei.
- Ela está estranha desde o ocorrido na floresta. - amarrei meu cabelo em um rabo-de-cavalo frouxo - E hoje ela amanheceu com febre, meio que sem vida.
- Ela está tão pálida que quando a vi pensei que estivesse morta. - Lyanna disse, atônita.
Encarei-a depois daquele comentário. Por alguma razão aquilo me incomodava.

Depois de tomarmos café da manhã eu subi para ver como Nathalie estava. Ela ainda dormia. Peguei um livro que estava em cima da cama e fui em direção a porta, mas antes que pudesse sair pensei ouvir Nath dizer "eles estão voltando para me buscar".
Virei-me para minha amiga. Ela ainda dormia. Respirei fundo, eu só podia estar ficando louca.
Fui até o barranco que eu havia visto no dia anterior e deitei na grama. O vento ali era forte, mas o local tinha uma ótima paisagem: as águas cristalinas do rio, as arvores altas do outro lado e as borboletas que voavam por ali.
Fiquei lendo até escultar passos. Virei para trás e deparei-me com Nico sentado me encarando com aqueles olhos lindos.
- Oi. - falei, sorrindo
- Não acha que o vento está mais frio hoje? - ele olhou para as arvores na margem oposta, que balançavam
- Um pouco. - franzi a sobrancelha - Você não deveria estar com os meninos?
Um meio sorriso brotou em seus lábios.
- Vim buscar você. - Nico levantou-se e começou a andar - Vamos?
Marquei a pagina em que eu havia parado no livro e me levantei. Enquanto caminhávamos ficamos conversando sobre assuntos aleatórios, até que passamos em frente a um galpão de onde vinha sons que pareciam com gritos.
Agarrei o braço de Nico e fiquei o olhando.
- O que foi? - ele perguntou, rindo
- Não está escutando?
Ficamos em silencio por algum tempo.
- Hum, que estranho. - ele finalmente falou, andando em direção ao galpão
Foi então que o garoto em quem eu havia esbarrado ontem apareceu. Ele usava um avental sujo de sangue e segurava luvas.
- Está tudo bem aí dentro? - perguntei, ainda agarrada ao braço de Nico
- Sim, Talissa. - o garoto me olhou - Só estava abatendo um porco para o almoço.

Depois daquele momento estranho fomos encontrar Nate, Daniel e Lyanna jogando bola no campo de futebol.
- Então os dois resolveram aparecer. - Daniel comentou, sorrindo de lado.
- Como está a Nathalie? - perguntei para Lyanna
- Não sei, é melhor eu ir ver. - ela respondeu, chutando a bola para Nate e saindo correndo.
Enquanto Lya não voltava ficamos jogando bola, o que não foi uma boa ideia, porque eu era realmente ruim. Aquele era o sexto gol que Daniel fazia e incrivelmente eu não havia conseguido defender nenhuma vez. Peguei a bola e taquei na cabeça dele, sentando no chão em seguida.
- Ai, sua doida! - ele resmungou, passando a mão na cabeça - Parece que fuma.
Comecei a rir, talvez eu também não fosse muito normal.
Os meninos também sentaram no chão, eles pareciam cansados.
- O que vamos fazer agora? - Nate perguntou
- A piscina aquecida seria uma boa. - Nico sugeriu e eu concordei com a ideia.
- Sim, seria uma boa para afogar a Talissa. - Daniel falou, me encarando. Acho que ele ficou ressentido pela bolada.
Eles começaram a conversar sobre algo que eu não prestei atenção, até que Lyanna chegou correndo.
- Gente. - ela tentava respirar - A Nathalie...
- A Nathalie o que? - olhei para ela
- A Nathalie sumiu.

Passamos o dia procurando pela Nathalie. Quando o sol se pôs voltamos ao hotel, Marie nos esperava com um semblante preocupado.
- Alguma noticia? - ela perguntou de trás do balcão
- Nenhuma. - respondi, desanimada
- Não se preocupem, nós iremos achá-la. Meus funcionários são de confiança e continuarão a procurar. Agora descansem.
Nate, Daniel, Nico e Lyanna foram para o restaurante e eu voltei para o quarto. Entrei no banheiro e tomei um banho demorado, depois coloquei um vestido de alcinha preto e deitei em minha cama. Fiquei observando o céu pela janela, já era quase lua cheia.
Tudo o que eu conseguia pensar era no que poderia ter ocorrido com a Nathalie. Não é possível alguém sumir assim.
- Talissa? Está aí? - Ouvi Nico perguntar enquanto batia na porta
- Pode entrar. - respondi
Nico entrou, ele segurava uma caixa de isopor, aquelas que se usa para colocar comida.
- Você precisa comer alguma coisa. - ele disse, se sentando ao meu lado
- Não estou com fome.
- Eu trouxe torta de limão. - Nico sorriu, me entregando a caixa
- Nesse caso acho que estou com um pouquinho de fome.
Enquanto eu comia Nico me contava como havia sido no restaurante. Aparentemente a funcionaria de lá parecia muito animada levando em conta o que acabara de acontecer e aquele garoto de antes também estava lá, ele conversava com Marie sobre como a lua cheia estava breve e nenhum deles parecia realmente preocupado.
- As vezes eu acho que se eu tivesse ficado no quarto a Nathalie ainda estaria aqui... - falei quando terminei minha torta.
- Você não acha que isso é sua culpa, né? - ele me olhou
- Acho... - senti meus olhos arderem
- Porque seria culpa sua?
Ficamos em silencio por algum tempo, então Nico me beijou.
- Agora durma um pouco, ok?
Ele me abraçou e logo cai no sono.

Sonhei com Nathalie. Ela corria pela floresta tentando encontrar uma saída. Seu cabelo estava desalinhado e o pijama sujo, ela tinhas alguns machucados sangrando, mas continuava a correr.
Quando finalmente conseguiu sair da floresta ela foi parar em frente ao galpão. Aquele garoto estava lá de novo, ele colocava o avental e quando percebeu que Nathalie chegava deu um leve sorriso.
- Finalmente você chegou.
Nath tentou fugir, mas ele a agarrou pelo cabelo e a arrastou até o celeiro. "Eles voltaram para me buscar..." Ela gritava.

Acordei assustada. Nico ainda estava ao meu lado lendo algum livro.
- Precisamos ir. - falei, me levantando
- Ir pra onde? - ele também se levantou
Vesti meu moletom e peguei meu celular de cima do criado-mudo.
- Eu sei onde Nathalie está.
Abi a porta e fui andando pelo corredor. Nico segurou minha mão e eu o olhei.
- Não vá saindo assim. Esqueceu que eu vou com você?
Caminhamos até o galpão em silencio. Já se passava das nove da noite e era complicado de se enxergar, mas a porta estava bem a nossa frente. Nico a abriu e adentrou o local. Eu o segui, hesitando.
Lá dentro era impossível de ser ver qualquer coisa.
- Deve ter algum interruptor por aqui... - falei, passando a mão pela parede
- Achei. - Nico falou e acendeu a luz.
Virei-me para ver o que havia no local e desejei nunca tê-lo feito. Havia sangue para todos os lados, pendurada em uma corda ao teto estava Nathalie, os olhos abertos e petrificados e a barriga cortada com os órgãos a mostra. No chão estava desenhado um pentagrama e sentada ao centro dele estava Marie. Ela falava em outra lingua e olhava para o teto, seus olhos estavam todo branco e em suas mãos havia um coração.
Segurei o impulso de gritar e olhei para Nico. Ele parecia tão atordoado quanto eu. Apontei para porta e saímos de lá. Quando chegamos ao lado de fora cai de joelhos no chão e comecei a chorar.
- Talissa. - Nico se ajoelhou ao meu lado - Nós temos que sair, temos que avisar aos outros.
Ele me ajudou a levantar e fomos atrás dos nossos amigos. Os encontramos no quarto dos meninos, conversando.
- Temos que sair daqui. - Nico falou - Agora.
Nate, Daniel e Lyanna se entreolharam.
- Queremos explicações. - Nate nos encarou
- Nathalie está morta no galpão e Marie parece ser algum tipo de bruxa. - falei o mais rápido que pude - Agora vamos sair daqui.

Corremos em direção ao carro, mas quando chegamos os pneus estavam furados.
- E agora? - falei, chutando um dos pneus
- Ligamos para a policia? - Daniel sugeriu.
Nate pegou o celular e tentou discar.
- Não tem sinal aqui.
Ótimo, íamos acabar todos mortos igual a Nathalie. Me apoiei no carro e tentei não voltar a chorar.
- Pessoal. - Lyanna falou - Acho que sei o que está acontecendo...
- O que? - Daniel a encarou
- Ontem de madrugada eu acordei com fome e fui até o restaurante. No caminho passei em frente ao quarto de Marie e ela conversava com aquele garoto loiro sobre algum pacto. - ela olhou para cima - O garoto falou que agora só faltavam mais quatro mortes para o ritual ser completo antes da lua cheia.
- E porque não nos contou isso antes? - Nate perguntou, indo para a frente dela.
- Porque estava tarde e eu pensei que....
Então uma flecha atravessou a cabeça de Lyanna, espirrando sangue no rosto de Nate.
- Estava sonhando... - ela completou antes de cair no chão, morta.
- Vamos sair daqui. - Nico falou e nós corremos.
Daniel corria na frente e acabou no guiando até a floresta. Quando não aguentávamos mais correr sentamos no chão cheio de folhas, ofegando.
- O que vamos fazer? - perguntei, ainda com a cena de Lya morrendo em minha mente
- Não sei... Devemos ficar por aqui até as coisas se acalmarem. - Nate falou, olhando ao redor - Talvez eles pensem que fomos embora.
- Como iriamos embora se o carro continua lá? - argumentei
- Não há uma estação de trem aqui perto? - ele rebateu
- A estação fica à 10 minutos daqui... - Nico disse, se levantando.
- Podemos ir para lá. - Daniel falou
Também me levantei. Haviam várias trilhas ao nosso redor e provavelmente os funcionários as conheciam de cor e salteado. Se continuássemos ali logo logo seriamos encontrados.
- Temos que continuar. - falei, por fim
- Não tem não.
Virei para trás e deparei-me com o garoto loiro. Ele estava com o avental sujo de sangue e segurava um facão.
Voltamos a correr. Daniel novamente ia na frente e eu logo atrás, com Nico e Nate atrás de mim. Íamos por uma trilha que ficava cada vez mais larga e sem arvores.
Foi então que eu reconheci o local. Nós havíamos passado por ele quando íamos para a cachoeira. Logo a frente havia um penhasco...
- Daniel, não!
Quando eu gritei já era tarde de mais, ele havia caído. Quando dei por mim já estava chorando de novo. Nico me abraçou.
- Nós vamos morrer, nós vamos morrer... - era tudo o que eu conseguia dizer.
- Não vamos não, conseguimos despistar o garoto. - Nico falou e depositou um beijo em meus lábios.
Nate sentou-se a beira do penhasco e deu uma gargalhada.
- Não seja tolo, ele só foi embora porque conseguiu o que queria. - ele apontou para baixo - Mais uma morte.

Acabamos ficando os três sentados na beira do penhasco, olhando para baixo. O vento ficava cada vez mais forte.
- Devíamos sair daqui. Ir até a estação, avisar a policia. - falei depois de um longo silencio
- Sim.
Nico concordou mas continuamos sentados, observando o nada. E assim ficamos até Nate se levantar.
- Vamos logo, temos que sair daqui. - ele falou, começando a andar.
Nico e eu levantamos e começamos a segui-lo. Todos os caminhos que pegávamos nos levava de volta ao hotel. Tantas trilhas e só um destino... Estávamos entrando na decima segunda trilha quando paramos. E eu sei porque estava contando.
- Deveríamos ir até o hotel. - Nate sugeriu.
- Não! - falei na mesma hora
- Não há outra saída. - ele falou, se aproximando de mim - Nós temos que ir! Temos que lutar pela nossa vida!
- E como você acha que vai fazer isso? - comecei a gritar
- Eu irei matá-los! - Nate me segurou pelos ombros e começou a me balançar - Eu irei salvar vocês!
Então ele correu, me deixando ali, parada.
- Vamos? - Nico perguntou, estendendo a mão para mim.
Quando Nate finalmente sumiu em meio as arvores eu segurei a mão de Nico e nós corremos em direção ao hotel.
Chegando lá encontramos Nate enforcando a mulher do restaurante. Ela tentava gritar enquanto ele cravava as unhas no pescoço velho da mulher. Quando ela finalmente caiu morta no chão nós nos aproximamos.
- Tem certeza? - perguntei e ele balançou a cabeça positivamente
Adentramos o hotel juntos. Marie estava no balcão anotando algo em um caderno e ao lado dela estava o garoto loiro.
- Bem vindos novamente. - ela deu um sorriso simpático, ainda anotando o que quer que fosse no caderno - Meu filho Jason cuidará de vocês.
Olhei para o garoto loiro e ele sorriu para mim.
- Talissa, doce Talissa. - ele se aproximou, com o facão na mão - Só preciso de mais duas pessoas. Junte-se a mim e tudo ficará bem.
Jason me ofereceu o facão e eu o aceitei, hesitando. Olhei para Nate e torci para que ele entendesse o que estava acontecendo. Fui me aproximando de Nico aos poucos e deixei um sorriso sínico surgir em meus lábios.
- O que você está fazendo? - Nico me perguntou, recuando para trás
- Salvando a vida de quem realmente importa. - respondi, sorrindo
Me aproximei mais um pouco dele.
- Agora! - gritei
Peguei o facão e enfiei em meu peito esquerdo. Assim que eu senti a dor cai no chão, de joelhos. As lagrimas começaram a descer pelo meu rosto. Tentei olhar para o lado e consegui ver que Nate havia matado Jason e agora estrangulava Marie.
- Eu consegui... - falei baixo
Nico havia se ajoelhado ao meu lado.
- Talissa... - ele passou a mão em meu cabelo - O que você fez?
- Salvei a vida de quem realmente importa. - repeti o que havia dito antes, com um leve sorriso nos lábios - Eu amo você, Nico.
- Eu também amo você Tali... - agora ele chorava
- Prometa-me que irá sair daqui, que irá manter Nate a salvo. - eu sentia minha vida escapando de meu corpo - Prometa-me que ainda será muito feliz...
- Nós ainda seremos muito felizes. Você vai ficar bem, nós vamos sair daqui...
- Por favor Nico, me prometa. - levei minha mão até sua bochecha
- Eu prometo.
Então ele me beijou e eu fechei os olhos... E quando voltei a abri-los estava deitada em uma maca de hospital, com Nate e Nico ao meu lado.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

.-.

Sentei-me no chão, ofegando. Eu finalmente havia conseguido sair da vista de Vivian e agora eu poderia ficar em paz por alguns segundos. Pelo menos era o que eu pensava, até Nico chegar. Maldito filho de Nike.
Ele sentou ao meu lado e ficou me encarando.
- Oi pra você também. - falei, mal humorada
- O que foi? - ele perguntou, os olhos escuros fixos em mim
Respirei fundo, tentando não olhar para ele.
- Nada. Porque você acha que "foi" alguma coisa?
- Dois motivos. Primeiro você estava chorando mais cedo, segundo que seus amigos estão te procurando e você parece estar fugindo deles.
Encarei Nico por alguns segundos.
- Eu te odeio, sabia?
Um sorriso brotou em seus lábios.
- Ah é? Seria uma pena se eu te amasse.
Então ele me beijou pela primeira vez.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

-

Ela posicionou a única flecha que tinha em seu arco, puxou a corda e mirou. Ele estava ali, parado, conversando com um amigo. Sentiu seu coração acelerar e as lagrimas escorrerem por seu rosto. O silencio dele doía tanto, de uma forma que ela não podia explicar.
Respirou fundo, mirou uma última vez e então atirou.
A flecha acertou a parede, passando de raspão sobre o ombro direito do garoto.
- Me desculpe... - As lagrimas escorriam pelo rosto da garota.
Ele a olhou, havia tanta dor nos olhos dele quanto nos dela.
- Talissa... - ele a chamou e a garota caiu de joelhos no chão, chorando.
- Eu sinto muito, mas eu amo você e isso está me matando.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

-

Deitei na grama e encarei o céu. O sol estava quase para se por e o céu era uma mistura viva entre o azul, o roxo e o alaranjado. As nuvens pareciam criar formas e essas formas pareciam sorrir para mim.
- Matheus. - o chamei  - O céu não parece tão grande?
Ele se deitou ao meu lado.
- Ele é grande. Tão grande quanto você possa imaginar. E ele segue para longe e quem sabe existam pessoas deitadas nas nuvens nos olhando neste exato momento.
- Será que essas pessoas me acolheriam lá em cima? - perguntei, sentindo um leve sorriso brotar em meus lábios
- Por que não? - Matheus pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Sua mão está tão fria....
- Está? - as formas pareciam criar vida - Olhe como o céu é belo, me sinto tão pequena e frágil perto dele.
Por alguns segundos me senti perdida. Eu estava tão frágil e as nuvens pareciam me chamar. Senti minha vida se esvaziar.
- Talissa? - Matheus me chamou - Está me escutando?
Virei uma última vez para ele, encarando seus olhos escuros e o sorriso que agora se desmanchava.
- Uma vez me disseram que os apaixonados costumam reparar no céu. - fechei os olhos - Acho que estou tão apaixonada por você que o céu está me levando para observá-lo de perto...
Senti a temperatura ao meu redor diminuir, o mundo havia virado nevoa e as nuvens desciam e me puxavam pela mão. Tudo que eu tinha que fazer era deixar o céu me levar e foi o que eu fiz.

sábado, 10 de agosto de 2013

One-shot.

Sentei-me na cadeira em frente ao médico, com minha mãe ao lado. Era a terceira vez que eu voltava ali desde que eu havia sido internada por ter dificuldade em respirar e acabar desmaiando por falta de oxigênio. De certa forma eu já tinha me acostumado com aquela sala: era pequena e branca de mais para o meu gosto. Mas mesmo assim, estar ali me dava náuseas.
- Talissa. - Doutor Finn me chamou - É lamentável ter que te dar essa noticia, mas este é o meu trabalho e é importante que você se lembre que estou aqui para te ajudar.
Balancei a cabeça positivamente enquanto meu estomago se embrulhava e eu sentia as náuseas aumentarem.
- Há três dias você chegou aqui inconsciente. Sua mãe me contou que ultimamente você estava sentindo cansaço e dificuldade para respirar. Você estava muito fraca e com indícios de anemia e também havia ocorrência de sangramentos nasais recentes e dores nas articulações. Os exames só confirmaram o que eu já suspeitava. - eu podia sentir o gosto do acido em minha boca - Você está com câncer. Especificamente leucemia.
Demorei algum tempo para assimilar toda aquela informação. Olhei para a minha mãe, seus olhos estavam vermelhos e eu sabia que ela queria chorar, mas estava tentando ser forte porque por algum motivo os pais fazem isso de se sacrificar pelos filhos em noventa e nove porcento de suas vidas.
- Quais são as chances de cura? - ela perguntou
- São de 65%. - Finn respondeu.
Os dois começaram a conversar sobre o câncer e o tratamento e tudo o que eu fiz foi me levantar e sair correndo dali. E eu corri o mais rápido que pude, até eu me sentir incapacitada de continuar e cair de joelhos no chão frio do hospital. Então tudo ocorreu rápido, vomitei e cai em cima do meu próprio vomito e tudo o que eu pensava antes de apagar era em uma conversa que eu tivera com o Matheus dias antes. "Eu quero morrer dormindo" eu havia falado "Ao lado da pessoa que amo", e naquele momento eu não podia morrer, não daquele jeito, não ali. Eu não podia morrer longe da pessoa que eu amava. Eu não podia morrer longe do Matheus.

Quando acordei já era sexta-feira. Eu estava no hospital, deitada em uma maca dura e sem graça. Não havia mais ninguém ali, então fiquei encarando a pequena televisão que estava ligada em algum canal que eu não fazia ideia de qual era. Quando dei por mim pensava na escola. A última vez que havia estado lá fora segunda-feira e na mesma noite havia desmaiado e vindo para o hospital. Eu queria saber o que estava acontecendo lá na ausência de minha pequena existência.
Minha mãe entrou no quarto e logo veio me abraçar. Ela me explicou como aconteceria o tratamento: eu deveria fazer três quimioterapias e uma transfusão de medula óssea. Ela também me contou que o medico estava confiante e que como meu câncer havia sido diagnosticado mais cedo eu realmente podia ficar curada logo logo.
Quando cheguei em casa fui recebida por minha irmã e meu pai. Eles me abraçaram e então começou aquela conversa de "vai ficar tudo bem, nós estamos com você, você é forte". Pelo visto eu teria que me acostumar com aquilo. Meu cachorro veio correndo e eu o peguei no colo, sentido-me cansada pelo menor esforço. Ele me deu algumas lambidas e eu pedi licença e subi para o meu quarto. A primeira coisa que fiz foi tomar um banho, lavei meu cabelo e fiquei observando a espuma colorida que saia com xampu devido o fato deu ter pintado meu cabelo de azul. Eu nunca havia reparado como aquela espuma era bonita. Talvez o câncer fizesse isso com as pessoas, isso de reparar nos pequenos detalhes, sabe. Ou talvez isso seja apenas um efeito colateral por ter medo da morte.
Depois que me vesti com meu pijama do Snoopy peguei meu notebook e fui deitar em minha cama. Minha mãe havia colocado vários travesseiros e lavado meu edredom, e graças a isso eu me sentia mais confortável e segura, porque eu sempre amei travesseiros e o cheiro que fica na roupa depois de lavada.
Entrei no meu perfil do facebook e havia varias mensagens dos meus amigos: Augustus, Lianna, Nathalie, Jenny, Rebeca e Vivian. Fiz um resumo do que havia ocorrido nesses dias em que eu estive fora e os contei sobre meu câncer. Por algum motivo nenhum deles estava online, então fui ver o que tinha de novo na internet. Foi aí que o Matheus veio falar comigo.

Matheus: Oi, o que foi que você sumiu?
Eu: Estive no hospital por algum tempo.
Matheus: O que aconteceu? Já está melhor?
Eu: Nada com o que se preocupar, e sim, já estou melhor.
Matheus: Ah, ainda bem. Eu preciso de você inteira.

Ficamos jogando conversa fora até que minha mãe gritou que meus amigos estavam subindo. Okay, de onde eles haviam brotado?
Despedi-me de Matheus o mais rápido que pude e deixei de lado meu notebook. Meus amigos invadiram meu quarto, eles haviam trago filmes, chocolate, pipoca e sorvete.
- Minha Tali. - Lianna me abraçou - Você vai ficar bem, você vai ver.
- Você não pode morrer, o que será da gente sem você? - Vivian se deitou ao meu lado, com um sorriso fraco no rosto, então Augustus colocou Percy Jackson e o Ladrão de Raios na minha TV e todos deitaram ao meu lado. Nos esprememos na minha cama, que apesar de ser grande até para uma cama de casal ficava pequena para todos nós.
- Eu amo vocês. - Disse, pouco antes do filme começar.

Na segunda-feira eu fui para a escola como qualquer outro dia, a diferença é que eu sairia quatro horários mais cedo, pois minha primeira quimioterapia havia sido marcada para aquele dia. Assim que cheguei na escola fui falar com Nathan, outro amigo meu.
- Preciso falar contigo. - falei
- Oi para você também. - ele sorriu
- É sério. - e então eu contei toda a história.
- Mas você vai ficar bem, não vai? - ele perguntou, assim que eu terminei de falar
- Não sei, talvez sim, talvez não. Meu médico acredita que a quimo será o suficiente, mas mesmo assim terei que fazer a transfusão de medula óssea. Ele disse que eu ficarei bem e que me verei livre desse câncer em breve.
Nathan me olhou. Ele parecia triste.
- Eu... Eu espero que sim.
- Por favor, não conte a ninguém. - pedi
- Tudo bem. O Matheus já sabe?
- Não... Não conte nada, está bem? - voltei a pedir
- Okay.
Mais tarde eu o vi chorar perto da cantina.

Assisti os dois horários de aula e minha mãe veio me buscar no primeiro intervalo. Antes que eu fosse embora meus amigos me abraçaram e novamente disseram que eu ficaria bem.
- Volte para mim, ok? - Jenny sorriu e eu beijei sua bochecha.
Quando olhei para trás Matheus me encarava. Acenei para ele e ele acenou de volta. Senti meu coração bater forte e duas duvidas vieram em minha cabeça: Porque eu não queria contar a verdade para ele? E se eu o amava mesmo, porque não admitia?
Quando cheguei ao hospital o Doutor Finn me recebeu. Ele me levou até a sala de quimioterapia, onde varias pessoas já faziam o tratamento. Sentei em uma das cadeiras e as enfermeiras me ligaram às maquinas e todo o mais. Enquanto passava por minha primeira seção senti vontade de morrer pela primeira vez.
Assim que tudo aquilo acabou eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Matheus: "Lembra quando queríamos fugir para a terra média por meio de teletransporte? Devíamos ter feito aquilo enquanto podíamos."
Depois de alguns segundos ele me respondeu: "Não foi você quem disse que temos todo o tempo do mundo?". Quis responder que quem tinha dito aquilo fora Renato Russo, mas eu realmente gostava de citar partes das musicas que eu gostava e Tempo Perdido era uma musica ótima.

Os outros dias se passaram mais ou menos assim: Eu ia para a escola, assistia todas as aulas e ficava com meus amigos. Eu nunca falava pessoalmente com Matheus, apenas o básico e as vezes nem isso, mas sempre nos comunicávamos pelo Facebook ou pelo celular. Fazia três meses que nos conhecíamos e sempre fora assim. Na quarta-feira eu tive outra seção de quimioterapia, mas eu me sentia melhor. Minha ultima seção havia sido marcada para sábado. Eu tinha que pensar positivo porque eu não podia morrer por causa da merda daquele câncer. Eu iria morrer ao lado do Matheus e aquilo eu já havia decidido.

xxxx

Desde que Talissa havia faltado a escola por quatro dias ela havia ficado estranha. Nossas conversas haviam se tornado menos frequente, os amigos dela viviam chorando e ela também havia saído mais cedo da escola algumas vezes. Eu cheguei a perguntar o que estava acontecendo, mas a resposta era sempre a mesma: "Nada com o que se preocupar, apenas exames rotineiros no hospital, sabe?". Apesar de tudo eu sabia que havia algo errado e eu também sentia falta de conversar mais com ela.
Quando chegou sexta-feira a escola liberou os alunos mais cedo. Talissa estava sentada em um dos bancos que ficam em frente a nossa escola. Me aproximei, sorrindo.
- Oi. - eu disse - Você vai embora ou vai ficar por aqui?
- Meu pai disse que viria me buscar as seis e meia, então vou ficar por aqui. - ela sorriu
- Quer ir pro parque comigo? - perguntei - Podemos visitar Westeros. - mostrei o terceiro livro d'As Crônicas de Gelo e Fogo pra Talissa - Se me lembro bem paramos no mesmo capitulo.
- Por mim tudo bem. - ela se levantou, pegando a mochila - E eu tenho sanduíches de frango.
Sorrimos juntos e começamos a caminhar.
O parque ficava perto da escola, em frente a estação de metrô e não chegava a dar cinco minutos andando, mas mesmo assim, quando chegamos Talissa parecia muito cansada.
- Está tudo bem? - perguntei e ela fez que sim com a cabeça.
Sentamos embaixo de uma arvore. Ainda era cinco da tarde, então o sol estava um pouco forte. Peguei o livro e li em voz alta o capitulo do Jon Snow, onde a Ygritte morre.
- Cara, não acredito que a Ygritte morreu. - falei, olhando para o livro, perplexo
- Eu gostava da Ygritte.
Tali pegou os sanduíches e me entregou um. Enquanto comíamos conversávamos sobre a morte de uma das nossas personagens preferidas.
- Quando ela disse "Você não sabe nada, Jon Snow" quase que eu choro. - falei, entre uma mordida e outra
- Sabe, acho que essa é a forma que ela encontrou de dizer que ama o Jon.
- Uma forma muito estranha. - falei e nós rimos.
Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios até que o sol se pôs e começamos a observar as estrelas.
- O que você sabe sobre constelações? - ela me perguntou
- Sei que aquelas ali são as três marias. - apontei para uma linha reta com três estrelas - E aquela ali que parecem uma cruz é o cruzeiro do sul. - apontei para as outras - E você, o que sabe?
- Só que eu me sinto insignificante perto de tantas estrelas em tantas constelações.
Depois de algum tempo recebi uma mensagem de minha mãe. "Fui para casa mais cedo, você já pegou o metrô?". Digitei o mais rápido que pude "Estou indo, mãe. Não se preocupe."
- Preciso ir embora.- falei - Acha que seu pai ainda demora?
- Não, ele já deve estar chegando. - Talissa se levantou - Vem, eu te levo no metrô.
- Não precisa, Tali. Eu fico aqui até seu pai chegar.
- Mas sua mãe está te esperando. - Ela sorriu - Vem logo.
Quando chegamos a estação não precisamos esperar muito. Logo o metrô passou.
- Tem certeza que não quer que eu espere? - perguntei, torcendo para que ela pedisse que eu ficasse
- Tenho certeza. - Talissa sorriu - Mande um beijo pra sua mãe.
Abracei ela forte e desejei nunca mais soltá-la.
- Nos vemos segunda? - perguntei e ela confirmou com a cabeça. Entrei no metrô e tudo o que eu desejei foi que segunda chegasse logo.

Quando foi sábado recebi uma mensagem da Talissa. "Todo o tempo do mundo está acabando. Por favor, diga que ainda podemos ir para a terra media." Eu não sabia o que ela queria dizer com "todo o tempo do mundo está acabando", mas coisa boa não podia ser. "Podemos ir quando você quiser, my lady." Respondi, fazendo referencia a um dos animes que assistimos mês passado com o nosso amigo Nathan.

Na segunda-feira acordei mais animado que o normal. Eu finalmente iria vê-la. Vesti uma calça jeans, coloquei a camiseta do uniforme e minha blusa de frio azul por cima. A Talissa amava azul...
Infelizmente acabei chegando na escola atrasado. Havia tido alguns problemas no metrô.
Assisti só o segundo horário de aula, mas nem prestei atenção no que o professor de matemática dizia. Quando o intervalo chegou Talissa estava com seus amigos. Fiquei observando ela se divertir com eles, até que ela começou a tossir e sentou no chão. Pensei em ir ver se ela estava bem, mas Nathan me segurou.
- Olha...
As mãos da Talissa estavam sujas de sangue e ela chorava muito.
- Vai ficar tudo bem, Tali. - Augustus disse, ajudando-a a se levantar.
Ele a levou até a assistência e eu fiquei olhando.
- O que... - tentei perguntar, mas Nathan me encarou
- Ela está com câncer. Eu tinha prometido que não ia te contar, mas como eu poderia?
E então ele saiu andando e eu fiquei sozinho, encarando o nada e vendo como meu mundo havia desmoronado tão rápido. Então tudo começou a fazer sentido. "Só que eu me sinto insignificante perto de tantas estrelas em tantas constelações" ela havia dito, mas na verdade ela se sentia insignificante perante a morte.
Fui até a assistência e pedi para falar com ela.
- Ela está muito doente. - a vice diretora me encarou - Você não pode falar com ela...
- Por favor. - senti meus olhos lagrimejarem - Eu a amo e nunca tive coragem de contar, essa pode ser a minha única chance...
- Tudo bem...
Entrei na sala e encontrei a Talissa deitada em um sofá. Haviam limpado sua mão, mas a camiseta ainda estava suja do sangue.
- Matheus... - ela me olhou
- Sabe, o Jon nunca deveria ter saído daquela gruta, - me ajoelhei ao seu lado - ele deveria ter ficado lá para sempre, junto da Ygritte. E eu nunca deveria ter entrado naquele metrô.
- Eles estão vindo me levar. - acariciei sua bochecha - Desculpe, eu deveria ter te contado... - Uma lagrima escorreu de seus olhos e eu tratei de seca-la. - Eu estou morrendo... O câncer... ele vai me matar.
- Não vai não. - senti meus olhos arderem - Você vai ficar bem, você vai ver.
A vice-diretora colocou a mão no meu ombro e disse:
- Você tem que ir para a sala, Matheus.
Fiz que sim com a cabeça e voltei a olhar para a Thalissa.
- Você ainda vai viver muito... - passei a mão por seus cabelos e ela sorriu de lado
- Você não sabe nada, Matheus Delaor.
- Eu também amo você.
As lagrimas escorrerem por meus olhos e eu me levantei, caminhando para a sala. Olhei para trás por um instante e eles a levavam...

domingo, 19 de maio de 2013

Supernatural s2


Dia 04: Música do dia



One-shot: Uma historia sobre o fim



Fazia sol quando o professor Finn, de educação física, pediu a atenção de seus alunos.
Pandora, Michael e Liam estavam sentados no segundo degrau da quadra de esportes e pararam de conversar sobre violão para escutar o professor.
– Então, eu tenho um comunicado importante. – Finn fez uma pausa – A última missão para salvar o mundo falhou. O foguete 003 não conseguiu destruir o asteroide. Daqui a oito dias, cinco horas e vinte e dois minutos o asteroide conhecido como Planeta 14 irá colidir com a Terra.
Uma agitação se formou entre os alunos.
– Por favor, fiquem calmos. Já estamos no último horário de aula, quando o sinal tocar vocês estarão livres para irem atrás da família de vocês. Esse foi o último dia de aula de vocês, aproveitem isso.
Então Finn se retirou da quadra, os meninos que ali estavam voltaram a jogar futebol, muitos comentando que aquele seria o último jogo juntos.
Pandora tinha o olhar perdido, olhava para o céu, para as nuvens que agora tampavam o sol.
– Então o mundo vai acabar. – ela falou, mexendo na manga de sua blusa de frio.
– Sim. – Michael disse, pegando na mão da garota
Liam também parecia ter o olhar perdido.
– Eu preciso ver a Demetria.
– Mas Liam... – Panda o olhou – Ela está á milhas daqui.
– Por favor, Pandora. – o garoto se levantou –Me leve até a Demi.

O dia amanhecera agitado. A maioria das pessoas preparava-se para viajar, queriam rever a família, conhecer lugares novos, fazer o que ainda não haviam feito.
Depois de convencer os pais a deixá-la ir até Goiânia atrás de Demetria, sua melhor amiga de infância, Pandora pegou sua mochila e colocou algumas roupas.
Soltou seu cabelo, que chegavam abaixo da nuca em leves cachos castanho-escuros. Colocou um vestido azul-escuro rodado, calçou seu par de all star preto preferido e vestiu uma blusa de frio preta.
Em seguida despediu-se de sua família, pegando sua bicicleta e indo em direção à escola, onde encontraria com Liam e Michael.
No dia anterior havia combinado com os dois que viajariam para Goiania de bicicleta. Era uma ideia idiota, mas era o melhor que eles podiam fazer. Panda gostaria que seus outros amigos pudessem ir com ela, mas Jonny havia ficado com Wendy, e Mathews e Jimmy precisavam ficar ao lado de Karen, irmã de Mathews e prima de Jimmy, que estava internada no hospital.
Quando Panda chegou à escola, Liam e Michael já haviam chegado.
– Conseguiu falar com a Demi? – Liam perguntou, desencostando-se da parede
– Ela não atende o celular.
Desceu da bicicleta, pegando o celular na mochila e novamente discou o numero da Demetria. Como das outras vezes, a ligação caiu na caixa postal.
Michael estava mais quieto do que o normal. Pegou sua bicicleta que estava caída no chão e sorriu de lado, falando:
– Vamos logo, preciso falar com minha mãe ainda.
– Mas nós vamos nos atrasar, preciso estar de volta antes do dia final. – Pandora falou, olhando para Michael.
– Vai ser rapidinho, e é no caminho.
– Vamos logo com isso... – Liam disse, subindo em sua bicicleta.
Pedalaram por alguns minutos até chegar á casa de Michael. Deixaram as bicicletas na garagem e tocaram a campainha.
Uma mulher de cabelos pretos e pele clara abriu a porta. Ela tinha um sorriso largo e olhos brilhantes, como os de Michael.
– Oi filho. – ela passou a mão na cabeça do menino – E amigos.
– Sou a Pandora. – a garota disse, sorrindo
– E eu sou o Liam.
– Sejam bem-vindos, eu sou a Marie. Vamos entrar...
Entraram na casa devagar, seguindo Marie, e sentaram no sofá cor de pele que tinha na sala de estar.
– Então, não podemos demorar muito, se não vamos nos atrasar para a viagem. – Liam comentou, com um sorriso nos lábios
– Que viagem? – Marie disse, levantando-se do sofá
– Mãe, posso conversar com você a sós? – Michael falou, puxando a mãe para a cozinha.
Da sala Pandora e Liam podiam escutar os dois gritando. Depois de algum tempo Mich voltou para a sala, jogando-se no sofá.
– Vou poder ir, mas teremos que passar a noite aqui.
– Por mim tudo bem, já são cinco da tarde mesmo. – Panda disse, levantando-se do sofá – O que vamos fazer para aproveitar o fim do mundo?
– Minha mãe disse que tem uma cama-elastica no quintal...

O quintal era um lugar amplo, havia uma piscina, uma churrasqueira e uma mesa de piquenique. Sobre o gramado havia uma cama-elastica, com duas meninas pulando.
– Quem são? – Panda perguntou, sorrindo
– Minhas irmãs. – Michael respondeu, subindo na cama-elastica.
Uma das garotas aparentava ter por volta dos 12 anos, ela tinha o corpo pequeno e os cabelos pretos compridos. Já a outra era mais velha, talvez 18 anos. As duas tinham um sorriso largo, assim como Marie.
Liam e Panda sentaram-se na grama e ficaram observando os três irmãos pulando e rindo sem parar. Aquele até que era um bom modo de aproveitar o fim do mundo.
Pandora sentiu seu celular vibrar no bolso, pegou-o e viu que era uma ligação da Demetria.
– Liam, é a Demi... – a garota disse, atendendo o celular
– Ponha no auto-falante!
– Oi Demi... – Panda disse
– Panda, o céu vai cair! – Demi disse em meio aos soluços – Eu preciso de você... e do Liam.
– Calma... Amanhã de manhã vamos viajar praí! Nós vamos te ver, ok? – A ligação começava a falhar
– Prometa que antes do mundo acabar vocês ainda vão me abraçar...
– Eu prometo Demi! Escuta...
E então a ligação caiu.

Em Goiânia Demetria estava muito aflita e preocupada, primeiro porque seria o fim do mundo, e segundo, e se o mundo acabasse e não visse Liam?
Era um dia tão calmo até a notícia sair em todos os jornais: o fim do mundo seria em seis dias. Demi tinha que fazer algo para ver todos aqueles que não podiam, seu pai e seus amigos que moravam em Brasília.
Ela ligou para seu pai primeiramente e mandou beijos, falou que iria visita-lo antes do fim do mundo, mas em sua tentativa de ligar para Panda, sua grande amiga de infância, a moça da telefonia dizia que "estava ocupado", assim Demetria ficou louca, ficou o dia todo tentando ligar, ate que finalmente conseguiu, mas ela não pode terminar a chamada a ligação havia caído.


Após pedalarem por mais de quatro horas Liam, Michael e Pandora pararam em uma lanchonete de beira de estrada. Era um lugar pequeno, com mesas de madeira e comida bem simples.
Sentaram em uma mesa perto da janela e pediram panquecas e coca-cola. Panda olhava pelo vidro embaçado o céu lá fora, isso sempre a acalmava, e Liam e Michael conversavam sobre tudo o que já haviam passado juntos.
– Lembra de quando fizemos aquele desenho do Homem de Ferro e ninguém conseguia fazer o outro braço? – Liam sorriu

Foi então que o âncora do jornal anunciou que o fim do mundo havia sido adiantado, “o asteroide Planeta 14 está vindo em uma velocidade maior do que esperávamos, os cientistas estimam que a Terra será destruída daqui a aproximadamente uma hora e quinze minutos”.
Panda continuou observando o céu, como se não tivesse escutado nada. O senhor dono da lanchonete caminhou em direção a eles com dois sacos de papel com as panquecas dentro.
– Me desculpem, terão que levar para a viagem. Nós estamos fechando, temos que ir até a nossa família.

– Ah, tudo bem. – Liam respondeu – São quantos minutos daqui até a Goiania?
– Dá uma hora, meu jovem.
– E de bicicleta? – Michael perguntou
– Vocês morrerão no caminho. – Panda parou de olhar para o céu – Mas eu lhes dou carona.

E então entraram no carro do velho homem e comeram suas panquecas. O coração batendo forte, pensamentos voando.
Liam pegou o celular e ligou para Demi, pedindo que ela os esperasse em frente a casa dela.

E quando eles chegaram ela realmente estava lá. Os olhos vermelhos de tanto chorar.
Pandora correu e a abraçou, e quando soltou a amiga Liam a olhava com um sorriso fraco nos lábios.
Demi não pode conter o sorriso, correu e o abraçou, beijando-o.
E então David, o irmão mais novo de Demi gritou que o céu estava caindo.
Michael aproximou-se de Panda, apertando a bochecha da garota.
– O que você está fazendo? – Ela perguntou
– Pode ser a última vez que eu aperto sua bochecha. – ele sorriu – Acho que vou sentir falta disso.
– Michael, eu estou com medo. – Panda disse, com os olhos vermelhos
– Vai ficar tudo bem.
Então ele a abraçou e pela primeira vez olhar para o céu não a acalmaria. 



Escrita por Tauane Matos e Sara Moreira.