quinta-feira, 21 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - III

06 de dezembro de 2016

Querido Amigo,
           Hoje Nate me levou ao shopping.
           Como o natal está chegando ele disse que gostaria de comprar os presentes para a família e eu fui ajudá-lo a escolher. Eu achei interessante o fato dele ter uma lista com os nomes dos membros da família e quando eu perguntei porquê ele havia precisado escrever ele apenas sorriu e falou:
            “É para não esquecer.”
            Ele piscou para mim com o olho esquerdo e nós fomos as compras. No final tínhamos muitas sacolas, mas foi divertido, porque sempre que eu escolhia alguma coisa ele achava que outra seria mais interessante e acabava que escolhíamos outro presente para a pessoa. Brigamos muito por causa disso também, mas foi aquele tipo de briga boa, que te faz gargalhar.
          O shopping estava todo enfeitado para o Natal. Aliás, acho que esse mês de dezembro todo gira em torno do Natal e isso tem mexido com a minha cabeça.
          Quando Nate e eu terminamos de fazer as compras ficamos sentados em um dos banquinhos observando os pisca-piscas e toda aquela decoração. Tudo o que me veio em mente enquanto fazíamos aquilo é que eu TENHO que fazer algo de especial neste Natal, porque ele vai ser o último. E não me pergunte por que eu acho que ele será o último, é apenas algo que eu estou sentindo aqui dentro de mim.
           De qualquer maneira, isto está na minha cabeça e eu não consigo dormir. Quero que esse natal seja perfeito, preciso que ele seja perfeito e eu não sei como fazê-lo.
           Quando eu contei sobre isso para o Nate, ainda no shopping, ele sorriu e disse que tinha uma coisa para mim. Então ele me guiou até uma loja e tampou meus olhos.
           “Não vale espiar” Ele disse enquanto me guiava entre as prateleiras.
           Quando ele tirou as mãos de meus olhos eu estava em frente ao ursinho de pelúcia mais fofo de todos. Pode parecer que eu sou uma boba, mas eu sou apaixonada por ursinhos de pelúcia e tenho uma coleção deles.
            “Esse vai ser especial.” Nate falou “Quero que você cuide muito bem dele, pois é um urso de natal e eu realmente espero que ele faça com que você escolha a melhor coisa para tornar seu natal mais especial”.
              Não pude evitar sorrir com aquilo, apesar de que até agora o urso não fez com que eu decidisse o que preciso fazer. Minha cabeça só tem ficado mais confusa.
              Conversei com o Nicolas sobre isso e ele me falou que talvez eu esteja ficando paranoica. Acho que ele tem razão, por isso decidimos começar um jogo, um pouco sem nexo, mas que me faria desviar um pouco a atenção em questão a tudo isso.
               O jogo é bem simples: toda vez que alguém falar não para você, você grita “morre”. Então eu perguntei se ele achava que aquilo funcionaria e ele respondeu que não.
             Adivinha o que eu falei? MORRE! 

                                                                                                 Com amor,
                                                                                                          Cassie. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Um natal longe de Hogwarts

Acordei quando os primeiros raios de sol adentraram a janela do dormitório. Lá fora eu podia ver Hogwarts coberta de neve, cujo qual começava a derreter com a manhã.
O relógio na cabeceira da cama marcava cinco horas e quarenta e cinco minutos. A maioria das pessoas ainda dormiam, despreocupadas.
Levantei-me e senti o frio que fazia fora de minhas cobertas. Peguei meu cachecol listrado azul com bronze, para combinar com as cores da Corvinal, e uma touca azul-meia-noite.
Depois de ter certeza de que estava aquecida o suficiente comecei a arrumar minhas malas. Eu sentia falta de minha família, e por mais que quisesse ficar em Hogwarts, neste ano eu deveria ir para casa.
Terminei de guardar meus pertences na mala e desci para o Salão Principal. A decoração de Natal estava excepcionalmente linda, havia pisca-piscas em todos os lugares, sem contar o enorme pinheiro cheio de bolinhas vermelhas, azuis, verdes e amarelas.
Acho que fiquei um bom tempo parada na porta de entrada observando os pisca-piscas, porque quando me dei conta Serena e Mayara estavam paradas na minha frente, gesticulando freneticamente as mãos para que eu prestasse atenção.
- Tá viva? - Mayara perguntou e eu a olhei.
- Desculpe, zonzóbulos. Sabe como são, né?
Ela concordou com a cabeça.
- Só queria saber se você vai para casa hoje. - Serena falou, com um sorriso amigável.
- Vou sim. - sorri de volta - Prometi para o Matheus que o acompanharia.
- Saquei. Neste caso, nos vemos depois da pascoa.
As duas me abraçaram e depois foram em direção a mesa da Grifinória. Fiquei mais alguns segundos observando a decoração de Natal e pensando se minha mãe havia montado a árvore esse ano.
Comecei a perceber que o Salão Principal estava enchendo. Com toda a certeza eu passaria minha noite de Natal lembrando daquele lugar.
Caminhei até a mesa da Corvinal e percebi que Matheus já estava lá. Sentei-me ao seu lado e ele me olhou, beijando-me em seguida.
- Pronta para ir pra casa?
- Hogwarts é a minha casa. - respondi, olhando para as torradas em meu prato.
Matheus segurou minha mão e a apertou de leve.
- Nos encontramos no Salão Comunal daqui a uma hora, ok?
Concordei com a cabeça, peguei uma das torradas e me levantei, correndo em direção a cabana de Hagrid.
Quando cheguei bati na porta três rápidas vezes e o meio gigante a abriu.
- Tauane, que surpresa! - Hagrid me abraçou forte e me convidou para entrar.
Sentei-me em um dos bancos de madeira enquanto o chá era servido.
- Ao que devo a honra de sua visita? - ele também se sentou em um dos bancos de madeira
- Eu estou com medo. - falei entre um gole e outro de meu chá - Nunca voltei para casa desde que vim para Hogwarts. Já fazem três anos.
- Do que tem medo? Sua família deve sentir sua falta.
- E eu sinto a falta deles. - encarei meus pés
- Então qual é o problema, pequena?
- Hogwarts foi o único lugar em que eu me senti aceita. E se eu não puder voltar?
Hagrid riu e eu o olhei, confusa.
- Hogwarts é o seu lar. E um lar sempre espera por você.
Não pude deixar de sorrir ao ouvir aquilo. Quando voltei para o Salão Comunal da Corvinal, Matheus esperava por mim.
Peguei minha mala, segurei na mão de Matheus e juntos atravessamos os corredores de Hogwarts. Lá fora a neve havia voltado a cair, por mais que alguns raios de sol insistissem em atravessar as nuvens.
Continuamos a andar, e eu juro, não olhei para trás, eu sabia que em breve estaria de volta.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - II

23 de novembro de 2016

Querido Amigo,
          Hoje foi um dia muito triste. Não que os outros não tenham sido, não me entenda mal, mas este foi pior.
           Voltei a ir para a escola. Meu pai me deixou lá de carro, ele ainda tem medo de que eu me esqueça para onde vou e acabe me perdendo por aí, mesmo que os médicos tenham dito que isso provavelmente não voltará a ocorrer.
            Quando desci do carro fiquei um pouco confusa, porque não me lembrava de onde era a minha sala de aula. Mas tudo bem, porque antes eu precisava contar aos meus amigos o que estava acontecendo. Foi aí que o dia ficou muito triste. Acho que eu nunca havia visto Hazel chorar tanto como quando eu a contei. E depois Geórgia e Sam se juntaram a ela. As três me abraçaram e nós choramos juntas por um bom tempo, até o sinal tocar.
            Foi aí que eu contei a Hazel que eu havia me esquecido de onde era a nossa sala de aula, e em vez de chorar, ela riu. Abraçou-me forte mais uma vez e simplesmente disse:
            “Acho que isso foi a melhor coisa que você me falou hoje”.
             Então ela me levou para fora da escola e matamos os dois primeiros horários em uma lanchonete que tinha ali perto. Não vou mentir e dizer que nunca havia feito aquilo antes, porque era algo comum para nós, mas naquele momento era diferente. Era um momento só nosso, porque acho que ela também tem medo de que eu me esqueça dela.
             Depois disso voltamos para a escola e eu não havia feito nenhum dever de casa. Acho que meus pais já haviam conversado com os professores, porque nenhum deles me deu sermão por não ter feito nada. Talvez o Alzheimer tenha seu lado bom. Bem, foi o que eu pensei até chegar em casa.
              Nate foi comigo até minha casa. Ele disse que faria isso todos os dias, porque se preocupava comigo e queria me ver bem. Aquilo me deixou muito feliz, então eu o beijei e perguntei se ele gostaria de jantar comigo esta noite. Ele aceitou e nós entramos em casa.
              Meus pais não estavam em casa, como sempre eles chegariam tarde, pois o trabalho exige muito deles. Desde o ano passado minha irmã tem morado com o namorado, então eu fico a maior parte do meu tempo sozinha.
              De qualquer jeito, quando chegamos subimos ao meu quarto para deixar as mochilas. Era a quinta vez que Nate ia a minha casa, então ele já sabia o caminho. Não que eu tivesse me esquecido. Em fim, quando cheguei a meu quarto fiquei surpresa porque havia um cachorro ali e eu não me recordava de ter nenhum animal de estimação.
             Perguntei se Nate sabia sobre o cachorro e ele me olhou de uma forma que me dói só de lembrar. Então ele se sentou na cama, me puxando para o seu lado, e disse-me que aquele era meu cachorro Nick e que já faziam cinco anos que ele estava comigo.
             Não consegui me conter e comecei a chorar.
             “Está tudo bem, não precisa chorar.” Nate falava enquanto me abraçava.
             Quando eu me acalmei nós dois descemos para a cozinha e fizemos o jantar: macarrão com almôndegas. Nate fez a maior parte, porque eu nunca soube cozinhar. Estava muito gostoso, talvez até melhor que o hambúrguer de bacon.
              Agora eu estou sentada na varanda do meu quarto junto de Nate. Ele que me deu a ideia de te escrever agora, porque eu contei de você para ele e ele acha que a nossa primeira refeição cozinhada juntos é uma memória muito importante. E ele tem razão, é uma memória que eu não quero esquecer.

                                                                                                                    Com amor,
                                                                                                                                   Cassie.

As Memórias de Cassandra - I

18 de novembro de 2016

Querido Amigo,
           Estou escrevendo porque não quero esquecer. Eu sei que isto não deve estar fazendo muito sentido para você, já que não me conhece, mas eu preciso saber que existe alguém capaz de guardar minhas memórias.
            E não me pergunte o porquê, mas eu acho que você entenderá o que anda se passando comigo e acolherá minhas memórias. Antes que eu me apresente peço que, por favor, não responda as cartas. Eu provavelmente me esquecerei disso também.
            Meu nome é Cassandra, tenho 16 anos e sofro do Mal de Alzheimer.
            Quando eu tinha 13 anos costumava esquecer muito as coisas. Esquecia o dever de casa, o que havia comido no jantar de ontem, em que dia tal coisa havia acontecido. Pareciam coisas normais de se esquecer, acho que ninguém realmente imaginava o que estava para acontecer. Exceto Near. Acho que no fundo ele sempre soube, por isso sempre falava sobre o Minotauro que vivia em minha cabeça, sempre comendo minhas memórias. Ele me dizia para ser forte, que com uma memória feliz o suficiente eu mataria o Minotauro.
            O dia em que eu descobri que o Minotauro na verdade era uma doença foi horrível. Foi semana passada, na sexta-feira. Eu havia saído da escola e estava indo em direção à parada de ônibus quando me esqueci de onde morava. Isso mesmo, eu simplesmente me esqueci. Lembro-me de ter ficado olhando para as pessoas em minha volta, atônita, até começar a chorar. E chorei muito, porque estava sozinha.
            Desde sexta-feira meus dias tem sido tortuosos. Fiz muitos exames para que os médicos tivessem certeza de qual era o meu problema e então, depois de três dias, eles me contaram sobre o Mal de Alzheimer. Lembro de ter chorado muito nesse dia.
            Aliás, desde que tudo aconteceu, eu só tenho chorado. Mas tem esse garoto, o Near. Como eu já falei antes, eu o conheci quando tinha 13 anos e me apaixonei perdidamente. Claro que naquela época eu ainda não entendia muito bem o que estava sentindo, mas agora eu entendo. Entendo que o amo. Acho que ele é um dos motivos de eu estar escrevendo, não quero esquecê-lo nunca. Ele tem me ajudado muito, como sempre me ajudou. É um ótimo namorado, uma ótima pessoa, e acima de tudo, um ótimo amigo. Eu gostaria que você o conhecesse, tenho certeza que o amaria tanto quanto eu.
            Uma das coisas que eu mais gosto do Near é de quando ele me leva para a Praça dos Três Anjos. Fica perto de nossa escola e fazemos isso desde que nos conhecemos. Nós ficamos lá fazendo nada a maior parte do tempo, mas é muito divertido estar com ele. Eu fico observando a forma que ele sorri, o jeito que ele fala e como ele costuma me olhar quando eu conto alguma história de algum livro que li. Gosto muito também de quando ele me abraça e do cheiro dele. Não quero esquecer o cheiro dele.
              Vou ter que parar de escrever agora, porque estou chorando muito novamente e não quero que a folha chegue toda enrugada até você. Desculpe-me por isso.
             
                                                                                                              Com amor,
                                                                                                                             Cassie.

Vende-se

Vende-se um baú cheio de sentimentos
Há um pouco de infância,
a tempos vivida.
Um muito de amor,
que ainda sinto dentro de mim.
Há também saudade,
de uma tarde chuvosa cheia de felicidade.

Vendo porque quero esquecer,
mas vendo acima de tudo
porque ainda gosto de você.