sábado, 24 de agosto de 2013

Por enquanto, sem titulo

Acordei com Nico me chamando. Abri os olhos devagar e percebi que o carro estava parado embaixo de uma arvore.
- Acorde, a gente já chegou. - Nico disse me dando um beijo na bochecha e saindo do carro.
Demorei alguns segundos para assimilar que eu havia passado uma viagem de duas horas e meia dormindo. Desci do carro ainda sonolenta e observei tudo ao meu redor. O local era bem grande, havia uma placa de madeira escrita: "Sejam bem-vindos ao Hotel Fazenda Doze Flores", uma casa de três andares de madeira, um campo de futebol, um pomar, um celeiro, duas piscinas de água natural e um local coberto com churrasqueira e piscina aquecida. O local continuava para trás, mas eu não conseguia ver o que havia mais para lá.
Me aproximei de onde Nate, Lyanna e Nathalie estavam.
- Então a bela adormecida acordou. - Nate disse, rindo.
- Não, não. - Lya se intrometeu - Não vê que a Talissa ainda está dormindo?
Comecei a rir e fui andando em direção ao hotel. Nico e Daniel já estavam lá dentro conversando com a recepcionista: uma mulher de quarenta e poucos anos, com os cabelos pretos e os olhos cinzas.
- E essa deve ser a Talissa. - ela sorriu para mim e eu pensei em como ela tinha me reconhecido.
- Sim. - dei um sorriso de lado - Você deve ser a Marie, certo? Foi com você com quem eu conversei no telefone?
A mulher concordou com a cabeça e foi para trás do balcão.
- Eu fiquei muito feliz quando soube que vocês viriam, isso será perfeito. - ela pegou duas chaves em uma caixa - Aqui estão as chaves dos quartos, são as duas primeiras portas do segundo andar.
- Obrigada. - agradeci e peguei as chaves.
Peguei minha mochila e subi para o quarto junto com Lyanna e Nathalie, havíamos decidido que seria um quarto só para meninas e o outro para os meninos.
Joguei minhas coisas na cama perto da janela e sentei-me no chão, suspirando.
- O lugar parece ser bom. - Nathalie comentou, olhando pela janela.
- Tenho que concordar, estou animada para explorar mais. - Lyanna sorriu - E isso me dá uma ótima ideia. Chamem os meninos e me encontrem perto da churrasqueira.
Fiquei observando minha amiga sair do quarto e depois me levantei. Nathalie já havia ido chamar os garotos, então tudo o que eu precisava era ir até a churrasqueira.
Caminhei até a escada, sem prestar muita atenção e quando percebi havia esbarrado em alguém.
- Cuidado por onde anda, Talissa.
Olhei para a pessoa que eu havia esbarrado. Era um garoto um pouco mais novo que eu, ele tinha os cabelos loiros e os olhos cinzas, como os de Marie.
- Me desculpe... - falei, voltando a descer as escadas.
O garoto ficou me olhando até que eu saísse de dentro do hotel.

Caminhei até a churrasqueira, onde todos já estavam.
- Finalmente, pensei que você estivesse dormindo. - Nathalie brincou
- De novo. - Nate acrescentou.
 Puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Daniel.
- Então, o que tem em mente? - encarei Lyanna, que se levantou
Ficamos em silencio por alguns segundos até que Daniel começou a rir. Bem, se eu já suspeitava que ele não era nada normal agora eu tinha certeza.
- Daniel, você poderia parar de rir? - Lya o encarou até que ele ficou quieto - Ótimo. Como vocês sabem este local é bem grande. Eu estava dando minhas olhadas e decidi que devemos explorar a área em preservação.
Ela esperou para ver nossa reação. Apenas ficamos a encarando, até que ela continuasse.
- Conversei com alguns funcionários e descobri que há um rio aqui perto. E também há uma cachoeira. - Lyanna parecia muito animada - Então, como ainda são quatro horas da tarde eu estava pensando que poderíamos ir lá agora. O que acham?
- Parece bom. - Nathalie disse, se levantando
- Então nós mal chegamos e já vamos para o meio do mato? - Daniel também se levantou, rindo.

Agora estávamos dentro de uma floresta, seguindo uma trilha que de acordo com a Lyanna deveria nos levar até uma cachoeira e tudo o que eu conseguia pensar era no barranco que havia na beira do rio a qual havíamos passado antes de entrar na floresta. Aquele parecia realmente um bom lugar para ler.
Fiquei tão distraída que não percebi que havíamos chegado a cachoeira até que o Daniel me empurrou para dentro da mesma. Já falei que odeio esse garoto? Pois é.
Sai da cachoeira encharcada. Meu casaco estava tão molhado que em vez de me esquentar me fazia tremer de frio.
Sentei na grama, me encolhendo.
- Estamos indo ver o que tem de bom para lá. - Nathalie gritou enquanto corria para dentro de uma trila com Lyanna.
Tirei meu casaco e deixei ao meu lado. Nate e Daniel haviam entrado na cachoeira e agora brincavam de lutinha usando gravetos como espadas.
- Está com frio? - Nico sentou ao meu lado.
- Um pouco. - respondi, encarando o céu
- Pegue. - ele me ofereceu o casaco dele e eu vesti no mesmo instante.
Ficamos observando os meninos brincarem até que escutamos um grito.
- Isso foi a Nathalie? - Nate perguntou, saindo da cachoeira.
Corremos pela trilha que as meninas haviam ido até as acharmos. Nathalie estava encolhida embaixo de uma arvore enquanto Lyanna encarava o resto da trilha.
- O que  foi? - Daniel perguntou, se aproximando. - Meu Deus, vocês gritaram por causa disso?
Me aproximei dos dois para checar. Havia uma coruja morta perto de Lyanna.
- Não é apenas "isso".
Lya apontou para frente e foi então que eu reparei: Não havia apenas uma coruja morta, haviam varias.

Na manhã seguinte Nathalie não quis se levantar da cama. Ela estava pálida, os cabelos cacheados sem vida e os olhos perdidos.
- Vamos Nath, temos muito o que fazer! Ainda não fomos nas piscinas! E podemos andar de cavalo!
Lyanna tentava fazer com que Nathalie se levantasse, mas ela apenas se limitava a nos encarar e sussurrar algo incompreensivo.
Me aproximei dela e coloquei minha mão em sua testa.
- Ah Nathalie... - falei baixo - Você está ardendo de febre.
Dei alguns remédios para ela e esperei com que ela caísse no sono. Depois desci até o restaurante com Lyanna, onde os meninos nos esperavam.
- Porque demoraram tanto? - Daniel perguntou, nos encarando - Estou com fome e a culpa é de vocês.
Sentei ao lado de Nate e peguei o cardápio.
- Nathalie está doente. - Lyanna falou, sem prestar muita atenção.
Uma funcionaria do local veio nos atender. Ela parecia bem velha para estar trabalhando, mas não comentei nada.
- O que desejam para o café da manhã, queridos? - ela deu um sorriso simpático
- Bacon, pão e ovos mexidos. - Daniel falou, encarando a mulher.
- E suco de laranja, cookies e sanduíches de frango. - Nico completou.
A mulher terminou de anotar o pedido e caminhou em direção a cozinha.
- Então, o que a Nath tem? - Nate perguntou
Respirei fundo e o olhei.
- Ela está estranha desde o ocorrido na floresta. - amarrei meu cabelo em um rabo-de-cavalo frouxo - E hoje ela amanheceu com febre, meio que sem vida.
- Ela está tão pálida que quando a vi pensei que estivesse morta. - Lyanna disse, atônita.
Encarei-a depois daquele comentário. Por alguma razão aquilo me incomodava.

Depois de tomarmos café da manhã eu subi para ver como Nathalie estava. Ela ainda dormia. Peguei um livro que estava em cima da cama e fui em direção a porta, mas antes que pudesse sair pensei ouvir Nath dizer "eles estão voltando para me buscar".
Virei-me para minha amiga. Ela ainda dormia. Respirei fundo, eu só podia estar ficando louca.
Fui até o barranco que eu havia visto no dia anterior e deitei na grama. O vento ali era forte, mas o local tinha uma ótima paisagem: as águas cristalinas do rio, as arvores altas do outro lado e as borboletas que voavam por ali.
Fiquei lendo até escultar passos. Virei para trás e deparei-me com Nico sentado me encarando com aqueles olhos lindos.
- Oi. - falei, sorrindo
- Não acha que o vento está mais frio hoje? - ele olhou para as arvores na margem oposta, que balançavam
- Um pouco. - franzi a sobrancelha - Você não deveria estar com os meninos?
Um meio sorriso brotou em seus lábios.
- Vim buscar você. - Nico levantou-se e começou a andar - Vamos?
Marquei a pagina em que eu havia parado no livro e me levantei. Enquanto caminhávamos ficamos conversando sobre assuntos aleatórios, até que passamos em frente a um galpão de onde vinha sons que pareciam com gritos.
Agarrei o braço de Nico e fiquei o olhando.
- O que foi? - ele perguntou, rindo
- Não está escutando?
Ficamos em silencio por algum tempo.
- Hum, que estranho. - ele finalmente falou, andando em direção ao galpão
Foi então que o garoto em quem eu havia esbarrado ontem apareceu. Ele usava um avental sujo de sangue e segurava luvas.
- Está tudo bem aí dentro? - perguntei, ainda agarrada ao braço de Nico
- Sim, Talissa. - o garoto me olhou - Só estava abatendo um porco para o almoço.

Depois daquele momento estranho fomos encontrar Nate, Daniel e Lyanna jogando bola no campo de futebol.
- Então os dois resolveram aparecer. - Daniel comentou, sorrindo de lado.
- Como está a Nathalie? - perguntei para Lyanna
- Não sei, é melhor eu ir ver. - ela respondeu, chutando a bola para Nate e saindo correndo.
Enquanto Lya não voltava ficamos jogando bola, o que não foi uma boa ideia, porque eu era realmente ruim. Aquele era o sexto gol que Daniel fazia e incrivelmente eu não havia conseguido defender nenhuma vez. Peguei a bola e taquei na cabeça dele, sentando no chão em seguida.
- Ai, sua doida! - ele resmungou, passando a mão na cabeça - Parece que fuma.
Comecei a rir, talvez eu também não fosse muito normal.
Os meninos também sentaram no chão, eles pareciam cansados.
- O que vamos fazer agora? - Nate perguntou
- A piscina aquecida seria uma boa. - Nico sugeriu e eu concordei com a ideia.
- Sim, seria uma boa para afogar a Talissa. - Daniel falou, me encarando. Acho que ele ficou ressentido pela bolada.
Eles começaram a conversar sobre algo que eu não prestei atenção, até que Lyanna chegou correndo.
- Gente. - ela tentava respirar - A Nathalie...
- A Nathalie o que? - olhei para ela
- A Nathalie sumiu.

Passamos o dia procurando pela Nathalie. Quando o sol se pôs voltamos ao hotel, Marie nos esperava com um semblante preocupado.
- Alguma noticia? - ela perguntou de trás do balcão
- Nenhuma. - respondi, desanimada
- Não se preocupem, nós iremos achá-la. Meus funcionários são de confiança e continuarão a procurar. Agora descansem.
Nate, Daniel, Nico e Lyanna foram para o restaurante e eu voltei para o quarto. Entrei no banheiro e tomei um banho demorado, depois coloquei um vestido de alcinha preto e deitei em minha cama. Fiquei observando o céu pela janela, já era quase lua cheia.
Tudo o que eu conseguia pensar era no que poderia ter ocorrido com a Nathalie. Não é possível alguém sumir assim.
- Talissa? Está aí? - Ouvi Nico perguntar enquanto batia na porta
- Pode entrar. - respondi
Nico entrou, ele segurava uma caixa de isopor, aquelas que se usa para colocar comida.
- Você precisa comer alguma coisa. - ele disse, se sentando ao meu lado
- Não estou com fome.
- Eu trouxe torta de limão. - Nico sorriu, me entregando a caixa
- Nesse caso acho que estou com um pouquinho de fome.
Enquanto eu comia Nico me contava como havia sido no restaurante. Aparentemente a funcionaria de lá parecia muito animada levando em conta o que acabara de acontecer e aquele garoto de antes também estava lá, ele conversava com Marie sobre como a lua cheia estava breve e nenhum deles parecia realmente preocupado.
- As vezes eu acho que se eu tivesse ficado no quarto a Nathalie ainda estaria aqui... - falei quando terminei minha torta.
- Você não acha que isso é sua culpa, né? - ele me olhou
- Acho... - senti meus olhos arderem
- Porque seria culpa sua?
Ficamos em silencio por algum tempo, então Nico me beijou.
- Agora durma um pouco, ok?
Ele me abraçou e logo cai no sono.

Sonhei com Nathalie. Ela corria pela floresta tentando encontrar uma saída. Seu cabelo estava desalinhado e o pijama sujo, ela tinhas alguns machucados sangrando, mas continuava a correr.
Quando finalmente conseguiu sair da floresta ela foi parar em frente ao galpão. Aquele garoto estava lá de novo, ele colocava o avental e quando percebeu que Nathalie chegava deu um leve sorriso.
- Finalmente você chegou.
Nath tentou fugir, mas ele a agarrou pelo cabelo e a arrastou até o celeiro. "Eles voltaram para me buscar..." Ela gritava.

Acordei assustada. Nico ainda estava ao meu lado lendo algum livro.
- Precisamos ir. - falei, me levantando
- Ir pra onde? - ele também se levantou
Vesti meu moletom e peguei meu celular de cima do criado-mudo.
- Eu sei onde Nathalie está.
Abi a porta e fui andando pelo corredor. Nico segurou minha mão e eu o olhei.
- Não vá saindo assim. Esqueceu que eu vou com você?
Caminhamos até o galpão em silencio. Já se passava das nove da noite e era complicado de se enxergar, mas a porta estava bem a nossa frente. Nico a abriu e adentrou o local. Eu o segui, hesitando.
Lá dentro era impossível de ser ver qualquer coisa.
- Deve ter algum interruptor por aqui... - falei, passando a mão pela parede
- Achei. - Nico falou e acendeu a luz.
Virei-me para ver o que havia no local e desejei nunca tê-lo feito. Havia sangue para todos os lados, pendurada em uma corda ao teto estava Nathalie, os olhos abertos e petrificados e a barriga cortada com os órgãos a mostra. No chão estava desenhado um pentagrama e sentada ao centro dele estava Marie. Ela falava em outra lingua e olhava para o teto, seus olhos estavam todo branco e em suas mãos havia um coração.
Segurei o impulso de gritar e olhei para Nico. Ele parecia tão atordoado quanto eu. Apontei para porta e saímos de lá. Quando chegamos ao lado de fora cai de joelhos no chão e comecei a chorar.
- Talissa. - Nico se ajoelhou ao meu lado - Nós temos que sair, temos que avisar aos outros.
Ele me ajudou a levantar e fomos atrás dos nossos amigos. Os encontramos no quarto dos meninos, conversando.
- Temos que sair daqui. - Nico falou - Agora.
Nate, Daniel e Lyanna se entreolharam.
- Queremos explicações. - Nate nos encarou
- Nathalie está morta no galpão e Marie parece ser algum tipo de bruxa. - falei o mais rápido que pude - Agora vamos sair daqui.

Corremos em direção ao carro, mas quando chegamos os pneus estavam furados.
- E agora? - falei, chutando um dos pneus
- Ligamos para a policia? - Daniel sugeriu.
Nate pegou o celular e tentou discar.
- Não tem sinal aqui.
Ótimo, íamos acabar todos mortos igual a Nathalie. Me apoiei no carro e tentei não voltar a chorar.
- Pessoal. - Lyanna falou - Acho que sei o que está acontecendo...
- O que? - Daniel a encarou
- Ontem de madrugada eu acordei com fome e fui até o restaurante. No caminho passei em frente ao quarto de Marie e ela conversava com aquele garoto loiro sobre algum pacto. - ela olhou para cima - O garoto falou que agora só faltavam mais quatro mortes para o ritual ser completo antes da lua cheia.
- E porque não nos contou isso antes? - Nate perguntou, indo para a frente dela.
- Porque estava tarde e eu pensei que....
Então uma flecha atravessou a cabeça de Lyanna, espirrando sangue no rosto de Nate.
- Estava sonhando... - ela completou antes de cair no chão, morta.
- Vamos sair daqui. - Nico falou e nós corremos.
Daniel corria na frente e acabou no guiando até a floresta. Quando não aguentávamos mais correr sentamos no chão cheio de folhas, ofegando.
- O que vamos fazer? - perguntei, ainda com a cena de Lya morrendo em minha mente
- Não sei... Devemos ficar por aqui até as coisas se acalmarem. - Nate falou, olhando ao redor - Talvez eles pensem que fomos embora.
- Como iriamos embora se o carro continua lá? - argumentei
- Não há uma estação de trem aqui perto? - ele rebateu
- A estação fica à 10 minutos daqui... - Nico disse, se levantando.
- Podemos ir para lá. - Daniel falou
Também me levantei. Haviam várias trilhas ao nosso redor e provavelmente os funcionários as conheciam de cor e salteado. Se continuássemos ali logo logo seriamos encontrados.
- Temos que continuar. - falei, por fim
- Não tem não.
Virei para trás e deparei-me com o garoto loiro. Ele estava com o avental sujo de sangue e segurava um facão.
Voltamos a correr. Daniel novamente ia na frente e eu logo atrás, com Nico e Nate atrás de mim. Íamos por uma trilha que ficava cada vez mais larga e sem arvores.
Foi então que eu reconheci o local. Nós havíamos passado por ele quando íamos para a cachoeira. Logo a frente havia um penhasco...
- Daniel, não!
Quando eu gritei já era tarde de mais, ele havia caído. Quando dei por mim já estava chorando de novo. Nico me abraçou.
- Nós vamos morrer, nós vamos morrer... - era tudo o que eu conseguia dizer.
- Não vamos não, conseguimos despistar o garoto. - Nico falou e depositou um beijo em meus lábios.
Nate sentou-se a beira do penhasco e deu uma gargalhada.
- Não seja tolo, ele só foi embora porque conseguiu o que queria. - ele apontou para baixo - Mais uma morte.

Acabamos ficando os três sentados na beira do penhasco, olhando para baixo. O vento ficava cada vez mais forte.
- Devíamos sair daqui. Ir até a estação, avisar a policia. - falei depois de um longo silencio
- Sim.
Nico concordou mas continuamos sentados, observando o nada. E assim ficamos até Nate se levantar.
- Vamos logo, temos que sair daqui. - ele falou, começando a andar.
Nico e eu levantamos e começamos a segui-lo. Todos os caminhos que pegávamos nos levava de volta ao hotel. Tantas trilhas e só um destino... Estávamos entrando na decima segunda trilha quando paramos. E eu sei porque estava contando.
- Deveríamos ir até o hotel. - Nate sugeriu.
- Não! - falei na mesma hora
- Não há outra saída. - ele falou, se aproximando de mim - Nós temos que ir! Temos que lutar pela nossa vida!
- E como você acha que vai fazer isso? - comecei a gritar
- Eu irei matá-los! - Nate me segurou pelos ombros e começou a me balançar - Eu irei salvar vocês!
Então ele correu, me deixando ali, parada.
- Vamos? - Nico perguntou, estendendo a mão para mim.
Quando Nate finalmente sumiu em meio as arvores eu segurei a mão de Nico e nós corremos em direção ao hotel.
Chegando lá encontramos Nate enforcando a mulher do restaurante. Ela tentava gritar enquanto ele cravava as unhas no pescoço velho da mulher. Quando ela finalmente caiu morta no chão nós nos aproximamos.
- Tem certeza? - perguntei e ele balançou a cabeça positivamente
Adentramos o hotel juntos. Marie estava no balcão anotando algo em um caderno e ao lado dela estava o garoto loiro.
- Bem vindos novamente. - ela deu um sorriso simpático, ainda anotando o que quer que fosse no caderno - Meu filho Jason cuidará de vocês.
Olhei para o garoto loiro e ele sorriu para mim.
- Talissa, doce Talissa. - ele se aproximou, com o facão na mão - Só preciso de mais duas pessoas. Junte-se a mim e tudo ficará bem.
Jason me ofereceu o facão e eu o aceitei, hesitando. Olhei para Nate e torci para que ele entendesse o que estava acontecendo. Fui me aproximando de Nico aos poucos e deixei um sorriso sínico surgir em meus lábios.
- O que você está fazendo? - Nico me perguntou, recuando para trás
- Salvando a vida de quem realmente importa. - respondi, sorrindo
Me aproximei mais um pouco dele.
- Agora! - gritei
Peguei o facão e enfiei em meu peito esquerdo. Assim que eu senti a dor cai no chão, de joelhos. As lagrimas começaram a descer pelo meu rosto. Tentei olhar para o lado e consegui ver que Nate havia matado Jason e agora estrangulava Marie.
- Eu consegui... - falei baixo
Nico havia se ajoelhado ao meu lado.
- Talissa... - ele passou a mão em meu cabelo - O que você fez?
- Salvei a vida de quem realmente importa. - repeti o que havia dito antes, com um leve sorriso nos lábios - Eu amo você, Nico.
- Eu também amo você Tali... - agora ele chorava
- Prometa-me que irá sair daqui, que irá manter Nate a salvo. - eu sentia minha vida escapando de meu corpo - Prometa-me que ainda será muito feliz...
- Nós ainda seremos muito felizes. Você vai ficar bem, nós vamos sair daqui...
- Por favor Nico, me prometa. - levei minha mão até sua bochecha
- Eu prometo.
Então ele me beijou e eu fechei os olhos... E quando voltei a abri-los estava deitada em uma maca de hospital, com Nate e Nico ao meu lado.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

.-.

Sentei-me no chão, ofegando. Eu finalmente havia conseguido sair da vista de Vivian e agora eu poderia ficar em paz por alguns segundos. Pelo menos era o que eu pensava, até Nico chegar. Maldito filho de Nike.
Ele sentou ao meu lado e ficou me encarando.
- Oi pra você também. - falei, mal humorada
- O que foi? - ele perguntou, os olhos escuros fixos em mim
Respirei fundo, tentando não olhar para ele.
- Nada. Porque você acha que "foi" alguma coisa?
- Dois motivos. Primeiro você estava chorando mais cedo, segundo que seus amigos estão te procurando e você parece estar fugindo deles.
Encarei Nico por alguns segundos.
- Eu te odeio, sabia?
Um sorriso brotou em seus lábios.
- Ah é? Seria uma pena se eu te amasse.
Então ele me beijou pela primeira vez.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

-

Ela posicionou a única flecha que tinha em seu arco, puxou a corda e mirou. Ele estava ali, parado, conversando com um amigo. Sentiu seu coração acelerar e as lagrimas escorrerem por seu rosto. O silencio dele doía tanto, de uma forma que ela não podia explicar.
Respirou fundo, mirou uma última vez e então atirou.
A flecha acertou a parede, passando de raspão sobre o ombro direito do garoto.
- Me desculpe... - As lagrimas escorriam pelo rosto da garota.
Ele a olhou, havia tanta dor nos olhos dele quanto nos dela.
- Talissa... - ele a chamou e a garota caiu de joelhos no chão, chorando.
- Eu sinto muito, mas eu amo você e isso está me matando.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

-

Deitei na grama e encarei o céu. O sol estava quase para se por e o céu era uma mistura viva entre o azul, o roxo e o alaranjado. As nuvens pareciam criar formas e essas formas pareciam sorrir para mim.
- Matheus. - o chamei  - O céu não parece tão grande?
Ele se deitou ao meu lado.
- Ele é grande. Tão grande quanto você possa imaginar. E ele segue para longe e quem sabe existam pessoas deitadas nas nuvens nos olhando neste exato momento.
- Será que essas pessoas me acolheriam lá em cima? - perguntei, sentindo um leve sorriso brotar em meus lábios
- Por que não? - Matheus pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Sua mão está tão fria....
- Está? - as formas pareciam criar vida - Olhe como o céu é belo, me sinto tão pequena e frágil perto dele.
Por alguns segundos me senti perdida. Eu estava tão frágil e as nuvens pareciam me chamar. Senti minha vida se esvaziar.
- Talissa? - Matheus me chamou - Está me escutando?
Virei uma última vez para ele, encarando seus olhos escuros e o sorriso que agora se desmanchava.
- Uma vez me disseram que os apaixonados costumam reparar no céu. - fechei os olhos - Acho que estou tão apaixonada por você que o céu está me levando para observá-lo de perto...
Senti a temperatura ao meu redor diminuir, o mundo havia virado nevoa e as nuvens desciam e me puxavam pela mão. Tudo que eu tinha que fazer era deixar o céu me levar e foi o que eu fiz.

sábado, 10 de agosto de 2013

One-shot.

Sentei-me na cadeira em frente ao médico, com minha mãe ao lado. Era a terceira vez que eu voltava ali desde que eu havia sido internada por ter dificuldade em respirar e acabar desmaiando por falta de oxigênio. De certa forma eu já tinha me acostumado com aquela sala: era pequena e branca de mais para o meu gosto. Mas mesmo assim, estar ali me dava náuseas.
- Talissa. - Doutor Finn me chamou - É lamentável ter que te dar essa noticia, mas este é o meu trabalho e é importante que você se lembre que estou aqui para te ajudar.
Balancei a cabeça positivamente enquanto meu estomago se embrulhava e eu sentia as náuseas aumentarem.
- Há três dias você chegou aqui inconsciente. Sua mãe me contou que ultimamente você estava sentindo cansaço e dificuldade para respirar. Você estava muito fraca e com indícios de anemia e também havia ocorrência de sangramentos nasais recentes e dores nas articulações. Os exames só confirmaram o que eu já suspeitava. - eu podia sentir o gosto do acido em minha boca - Você está com câncer. Especificamente leucemia.
Demorei algum tempo para assimilar toda aquela informação. Olhei para a minha mãe, seus olhos estavam vermelhos e eu sabia que ela queria chorar, mas estava tentando ser forte porque por algum motivo os pais fazem isso de se sacrificar pelos filhos em noventa e nove porcento de suas vidas.
- Quais são as chances de cura? - ela perguntou
- São de 65%. - Finn respondeu.
Os dois começaram a conversar sobre o câncer e o tratamento e tudo o que eu fiz foi me levantar e sair correndo dali. E eu corri o mais rápido que pude, até eu me sentir incapacitada de continuar e cair de joelhos no chão frio do hospital. Então tudo ocorreu rápido, vomitei e cai em cima do meu próprio vomito e tudo o que eu pensava antes de apagar era em uma conversa que eu tivera com o Matheus dias antes. "Eu quero morrer dormindo" eu havia falado "Ao lado da pessoa que amo", e naquele momento eu não podia morrer, não daquele jeito, não ali. Eu não podia morrer longe da pessoa que eu amava. Eu não podia morrer longe do Matheus.

Quando acordei já era sexta-feira. Eu estava no hospital, deitada em uma maca dura e sem graça. Não havia mais ninguém ali, então fiquei encarando a pequena televisão que estava ligada em algum canal que eu não fazia ideia de qual era. Quando dei por mim pensava na escola. A última vez que havia estado lá fora segunda-feira e na mesma noite havia desmaiado e vindo para o hospital. Eu queria saber o que estava acontecendo lá na ausência de minha pequena existência.
Minha mãe entrou no quarto e logo veio me abraçar. Ela me explicou como aconteceria o tratamento: eu deveria fazer três quimioterapias e uma transfusão de medula óssea. Ela também me contou que o medico estava confiante e que como meu câncer havia sido diagnosticado mais cedo eu realmente podia ficar curada logo logo.
Quando cheguei em casa fui recebida por minha irmã e meu pai. Eles me abraçaram e então começou aquela conversa de "vai ficar tudo bem, nós estamos com você, você é forte". Pelo visto eu teria que me acostumar com aquilo. Meu cachorro veio correndo e eu o peguei no colo, sentido-me cansada pelo menor esforço. Ele me deu algumas lambidas e eu pedi licença e subi para o meu quarto. A primeira coisa que fiz foi tomar um banho, lavei meu cabelo e fiquei observando a espuma colorida que saia com xampu devido o fato deu ter pintado meu cabelo de azul. Eu nunca havia reparado como aquela espuma era bonita. Talvez o câncer fizesse isso com as pessoas, isso de reparar nos pequenos detalhes, sabe. Ou talvez isso seja apenas um efeito colateral por ter medo da morte.
Depois que me vesti com meu pijama do Snoopy peguei meu notebook e fui deitar em minha cama. Minha mãe havia colocado vários travesseiros e lavado meu edredom, e graças a isso eu me sentia mais confortável e segura, porque eu sempre amei travesseiros e o cheiro que fica na roupa depois de lavada.
Entrei no meu perfil do facebook e havia varias mensagens dos meus amigos: Augustus, Lianna, Nathalie, Jenny, Rebeca e Vivian. Fiz um resumo do que havia ocorrido nesses dias em que eu estive fora e os contei sobre meu câncer. Por algum motivo nenhum deles estava online, então fui ver o que tinha de novo na internet. Foi aí que o Matheus veio falar comigo.

Matheus: Oi, o que foi que você sumiu?
Eu: Estive no hospital por algum tempo.
Matheus: O que aconteceu? Já está melhor?
Eu: Nada com o que se preocupar, e sim, já estou melhor.
Matheus: Ah, ainda bem. Eu preciso de você inteira.

Ficamos jogando conversa fora até que minha mãe gritou que meus amigos estavam subindo. Okay, de onde eles haviam brotado?
Despedi-me de Matheus o mais rápido que pude e deixei de lado meu notebook. Meus amigos invadiram meu quarto, eles haviam trago filmes, chocolate, pipoca e sorvete.
- Minha Tali. - Lianna me abraçou - Você vai ficar bem, você vai ver.
- Você não pode morrer, o que será da gente sem você? - Vivian se deitou ao meu lado, com um sorriso fraco no rosto, então Augustus colocou Percy Jackson e o Ladrão de Raios na minha TV e todos deitaram ao meu lado. Nos esprememos na minha cama, que apesar de ser grande até para uma cama de casal ficava pequena para todos nós.
- Eu amo vocês. - Disse, pouco antes do filme começar.

Na segunda-feira eu fui para a escola como qualquer outro dia, a diferença é que eu sairia quatro horários mais cedo, pois minha primeira quimioterapia havia sido marcada para aquele dia. Assim que cheguei na escola fui falar com Nathan, outro amigo meu.
- Preciso falar contigo. - falei
- Oi para você também. - ele sorriu
- É sério. - e então eu contei toda a história.
- Mas você vai ficar bem, não vai? - ele perguntou, assim que eu terminei de falar
- Não sei, talvez sim, talvez não. Meu médico acredita que a quimo será o suficiente, mas mesmo assim terei que fazer a transfusão de medula óssea. Ele disse que eu ficarei bem e que me verei livre desse câncer em breve.
Nathan me olhou. Ele parecia triste.
- Eu... Eu espero que sim.
- Por favor, não conte a ninguém. - pedi
- Tudo bem. O Matheus já sabe?
- Não... Não conte nada, está bem? - voltei a pedir
- Okay.
Mais tarde eu o vi chorar perto da cantina.

Assisti os dois horários de aula e minha mãe veio me buscar no primeiro intervalo. Antes que eu fosse embora meus amigos me abraçaram e novamente disseram que eu ficaria bem.
- Volte para mim, ok? - Jenny sorriu e eu beijei sua bochecha.
Quando olhei para trás Matheus me encarava. Acenei para ele e ele acenou de volta. Senti meu coração bater forte e duas duvidas vieram em minha cabeça: Porque eu não queria contar a verdade para ele? E se eu o amava mesmo, porque não admitia?
Quando cheguei ao hospital o Doutor Finn me recebeu. Ele me levou até a sala de quimioterapia, onde varias pessoas já faziam o tratamento. Sentei em uma das cadeiras e as enfermeiras me ligaram às maquinas e todo o mais. Enquanto passava por minha primeira seção senti vontade de morrer pela primeira vez.
Assim que tudo aquilo acabou eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Matheus: "Lembra quando queríamos fugir para a terra média por meio de teletransporte? Devíamos ter feito aquilo enquanto podíamos."
Depois de alguns segundos ele me respondeu: "Não foi você quem disse que temos todo o tempo do mundo?". Quis responder que quem tinha dito aquilo fora Renato Russo, mas eu realmente gostava de citar partes das musicas que eu gostava e Tempo Perdido era uma musica ótima.

Os outros dias se passaram mais ou menos assim: Eu ia para a escola, assistia todas as aulas e ficava com meus amigos. Eu nunca falava pessoalmente com Matheus, apenas o básico e as vezes nem isso, mas sempre nos comunicávamos pelo Facebook ou pelo celular. Fazia três meses que nos conhecíamos e sempre fora assim. Na quarta-feira eu tive outra seção de quimioterapia, mas eu me sentia melhor. Minha ultima seção havia sido marcada para sábado. Eu tinha que pensar positivo porque eu não podia morrer por causa da merda daquele câncer. Eu iria morrer ao lado do Matheus e aquilo eu já havia decidido.

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Desde que Talissa havia faltado a escola por quatro dias ela havia ficado estranha. Nossas conversas haviam se tornado menos frequente, os amigos dela viviam chorando e ela também havia saído mais cedo da escola algumas vezes. Eu cheguei a perguntar o que estava acontecendo, mas a resposta era sempre a mesma: "Nada com o que se preocupar, apenas exames rotineiros no hospital, sabe?". Apesar de tudo eu sabia que havia algo errado e eu também sentia falta de conversar mais com ela.
Quando chegou sexta-feira a escola liberou os alunos mais cedo. Talissa estava sentada em um dos bancos que ficam em frente a nossa escola. Me aproximei, sorrindo.
- Oi. - eu disse - Você vai embora ou vai ficar por aqui?
- Meu pai disse que viria me buscar as seis e meia, então vou ficar por aqui. - ela sorriu
- Quer ir pro parque comigo? - perguntei - Podemos visitar Westeros. - mostrei o terceiro livro d'As Crônicas de Gelo e Fogo pra Talissa - Se me lembro bem paramos no mesmo capitulo.
- Por mim tudo bem. - ela se levantou, pegando a mochila - E eu tenho sanduíches de frango.
Sorrimos juntos e começamos a caminhar.
O parque ficava perto da escola, em frente a estação de metrô e não chegava a dar cinco minutos andando, mas mesmo assim, quando chegamos Talissa parecia muito cansada.
- Está tudo bem? - perguntei e ela fez que sim com a cabeça.
Sentamos embaixo de uma arvore. Ainda era cinco da tarde, então o sol estava um pouco forte. Peguei o livro e li em voz alta o capitulo do Jon Snow, onde a Ygritte morre.
- Cara, não acredito que a Ygritte morreu. - falei, olhando para o livro, perplexo
- Eu gostava da Ygritte.
Tali pegou os sanduíches e me entregou um. Enquanto comíamos conversávamos sobre a morte de uma das nossas personagens preferidas.
- Quando ela disse "Você não sabe nada, Jon Snow" quase que eu choro. - falei, entre uma mordida e outra
- Sabe, acho que essa é a forma que ela encontrou de dizer que ama o Jon.
- Uma forma muito estranha. - falei e nós rimos.
Ficamos conversando sobre assuntos aleatórios até que o sol se pôs e começamos a observar as estrelas.
- O que você sabe sobre constelações? - ela me perguntou
- Sei que aquelas ali são as três marias. - apontei para uma linha reta com três estrelas - E aquela ali que parecem uma cruz é o cruzeiro do sul. - apontei para as outras - E você, o que sabe?
- Só que eu me sinto insignificante perto de tantas estrelas em tantas constelações.
Depois de algum tempo recebi uma mensagem de minha mãe. "Fui para casa mais cedo, você já pegou o metrô?". Digitei o mais rápido que pude "Estou indo, mãe. Não se preocupe."
- Preciso ir embora.- falei - Acha que seu pai ainda demora?
- Não, ele já deve estar chegando. - Talissa se levantou - Vem, eu te levo no metrô.
- Não precisa, Tali. Eu fico aqui até seu pai chegar.
- Mas sua mãe está te esperando. - Ela sorriu - Vem logo.
Quando chegamos a estação não precisamos esperar muito. Logo o metrô passou.
- Tem certeza que não quer que eu espere? - perguntei, torcendo para que ela pedisse que eu ficasse
- Tenho certeza. - Talissa sorriu - Mande um beijo pra sua mãe.
Abracei ela forte e desejei nunca mais soltá-la.
- Nos vemos segunda? - perguntei e ela confirmou com a cabeça. Entrei no metrô e tudo o que eu desejei foi que segunda chegasse logo.

Quando foi sábado recebi uma mensagem da Talissa. "Todo o tempo do mundo está acabando. Por favor, diga que ainda podemos ir para a terra media." Eu não sabia o que ela queria dizer com "todo o tempo do mundo está acabando", mas coisa boa não podia ser. "Podemos ir quando você quiser, my lady." Respondi, fazendo referencia a um dos animes que assistimos mês passado com o nosso amigo Nathan.

Na segunda-feira acordei mais animado que o normal. Eu finalmente iria vê-la. Vesti uma calça jeans, coloquei a camiseta do uniforme e minha blusa de frio azul por cima. A Talissa amava azul...
Infelizmente acabei chegando na escola atrasado. Havia tido alguns problemas no metrô.
Assisti só o segundo horário de aula, mas nem prestei atenção no que o professor de matemática dizia. Quando o intervalo chegou Talissa estava com seus amigos. Fiquei observando ela se divertir com eles, até que ela começou a tossir e sentou no chão. Pensei em ir ver se ela estava bem, mas Nathan me segurou.
- Olha...
As mãos da Talissa estavam sujas de sangue e ela chorava muito.
- Vai ficar tudo bem, Tali. - Augustus disse, ajudando-a a se levantar.
Ele a levou até a assistência e eu fiquei olhando.
- O que... - tentei perguntar, mas Nathan me encarou
- Ela está com câncer. Eu tinha prometido que não ia te contar, mas como eu poderia?
E então ele saiu andando e eu fiquei sozinho, encarando o nada e vendo como meu mundo havia desmoronado tão rápido. Então tudo começou a fazer sentido. "Só que eu me sinto insignificante perto de tantas estrelas em tantas constelações" ela havia dito, mas na verdade ela se sentia insignificante perante a morte.
Fui até a assistência e pedi para falar com ela.
- Ela está muito doente. - a vice diretora me encarou - Você não pode falar com ela...
- Por favor. - senti meus olhos lagrimejarem - Eu a amo e nunca tive coragem de contar, essa pode ser a minha única chance...
- Tudo bem...
Entrei na sala e encontrei a Talissa deitada em um sofá. Haviam limpado sua mão, mas a camiseta ainda estava suja do sangue.
- Matheus... - ela me olhou
- Sabe, o Jon nunca deveria ter saído daquela gruta, - me ajoelhei ao seu lado - ele deveria ter ficado lá para sempre, junto da Ygritte. E eu nunca deveria ter entrado naquele metrô.
- Eles estão vindo me levar. - acariciei sua bochecha - Desculpe, eu deveria ter te contado... - Uma lagrima escorreu de seus olhos e eu tratei de seca-la. - Eu estou morrendo... O câncer... ele vai me matar.
- Não vai não. - senti meus olhos arderem - Você vai ficar bem, você vai ver.
A vice-diretora colocou a mão no meu ombro e disse:
- Você tem que ir para a sala, Matheus.
Fiz que sim com a cabeça e voltei a olhar para a Thalissa.
- Você ainda vai viver muito... - passei a mão por seus cabelos e ela sorriu de lado
- Você não sabe nada, Matheus Delaor.
- Eu também amo você.
As lagrimas escorrerem por meus olhos e eu me levantei, caminhando para a sala. Olhei para trás por um instante e eles a levavam...