sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Anjos e o amor

O sangue escorreu por suas costas quando as asas brancas nasciam de dois pequenos cortes, há muito tempo já cicatrizados.
À medida que as primeiras penas iam saindo, em seu esplendor de plumagem branca, a dor aumentava. No começo era suportável, mas quanto maior as asas ficavam mais a dor a torturava. Podia sentir as lagrimas quentes em suas bochechas, a visão embaçada impedindo-a de decifrar as formas que a rodeava.
Ajoelhou-se no chão frio, levando as mãos as costas em uma tentativa desesperada e falha de evitar aquilo. Mas tudo o que a garota sentia era o calor de seu sangue contra sua pele. E as duas asas iam crescendo, em toda a sua inocência e dor.
E depois de alguns instantes, que pareciam mais um infinito, a dor cessou. E com o final da tortura veio o sentimento de calmaria.
A garota agarrou-se a ultima lembrança boa que ainda lhe restava e levantou-se, olhando para o céu azul. Caminhou em direção a imensidão, um pé de cada vez, sentindo a poça que seu próprio sangue havia se formado.
E quando sentiu que algo a esperava lá em cima, levantou voou. As lembranças do que a garota já fora um dia retornavam a tona, fazendo-a recorda-se de que o infinito era maior do que instantes e de que instantes apenas os humanos entendiam, em sua vida frágil e perversa.
Talvez ela fosse sentir falta dos sentimentos trazidos em seus dias de queda. Daquela última lembrança boa  a qual se agarrada em seu momento de dor: aquele garoto que tanto a cuidara.
Mas agora ela estava retornando ao seu único e verdadeiro lar. Voltava a entender o verdadeiro significado da paz e lamentava-se por não podê-lo ensinar para aquele garoto de sorriso fácil.
Deveria agora, acima de tudo, dedicar-se a sua nova missão. Se estava sendo chamada de volta era porque seus pecados haviam sido redimidos e uma nova chance havia sido dada. Era uma pena, que para isso, ela precisasse abrir mão de sua vida humana.
Mas veja só, que surpresa aquele antigo lugar lhe trazia. Sua missão era cuidar daquele que a ensinara a cultivar o mais puro sentimento humano: o amor.

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