quinta-feira, 21 de maio de 2015

...

Eu ainda lembro do frio que fazia naquela tarde. Eu havia esquecido minhas luvas e meus dedos pareciam congelar, mesmo eu não os tirando do bolso do meu moletom. Quando o sinal indicando o intervalo tocou, eu fui até a parte externa da escola porque sabia que ninguém estaria lá com aquele frio, e sentei nas escadas, observando os flocos de neve que caiam formando uma camada branca sobre a grama.
Fechei meus olhos e entrei em um outro mundo, costumava fazer isso as vezes. Não sei quanto tempo passou até eu sentir alguém tocar meu rosto.
- Ei - ouvi a voz dele e abri os olhos
- Oi - sorri - O que foi?
- Quero te falar uma coisa.
Arqueei uma das sobrancelhas, sentindo a curiosidade se acender dentro de mim igual meu cabelo costumava acender quando fazia sol. Minhas bochechas também coraram, mas preferia acreditar que isso era por causa do frio.
- O que? - perguntei
Ele me olhou e sorriu de lado, como se planejasse algo que ninguém pudesse saber.
- Ou você fica comigo ou eu mijo em você. - ele falou enquanto ria e eu acabei rindo também.
- Não acredito nisso! - falei em meio as risadas - Não quero que você mije em mim.
- Eu também não quero mijar em você, então...
- Tente de novo. - falei, rápido, antes que ele pudesse continuar a frase. As bochechas dele também estavam coradas.
Ele respirou fundo e pareceu pensar por um tempo, então abriu um sorriso e me olhou desafiador.
- Você não é a Ahri, mas estou preso no seu encanto.
Acabei rindo de novo.
- Okay, pare de tentar. Apenas feche os olhos.
Ele me olhou, já entendendo onde eu queria chegar, e fechou os olhos com um meio sorriso nos lábios.
Suspirei e tirei minhas mãos do bolso, sentindo-as gelar, e as coloquei no rosto dele. Ele estremeceu com o toque da minha pele gelada, mas não abriu os olhos, apenas colocou a própria mão em cima da minha, como se quisesse esquentá-las, e eu esperei um pouco sentindo a lã quente na minha pele.
Então me aproximei um pouco mais e o beijei. Um beijo calmo e não muito demorado. Ele só voltou a abrir os olhos quando nos separamos, mas continuou segurando minhas mãos.
- Pensei que você ia perguntar o que eu via, e então eu diria nada e você diria "esse é o meu mundo sem você". - ele disse, fitando-me.
- Aí não teria graça. - sorri e fechei um dos olhos, como fazia quando ria com vergonha.
- Okay, minha vez de novo. Feche os olhos.
Fechei meus olhos e apenas esperei ansiosamente pelo que viria em seguida. Ainda fazia frio, e a neve continuava caindo, mas minhas mãos já não estavam mais geladas como antes.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Corredores

Quando eu parava
tudo o que via eram pessoas
Preenchendo todos os corredores
contendo maldade em todo o seu ser

E entre todas as pessoas
havia vocês
Com as curvas dos cílios
e dedos inquietos, coloridos
E as voltas que o sorriso dá.

Quieta em meu silêncio
eu gostava de observar
A maldade que brilhava em vocês
era diferente daquela que enchia os demais
Era uma maldade quase que inocente
que me aquecia
e me fazia feliz

Por segundos
quando, em meio a discussões,
vocês riam entre si
E enquanto eu os observava
era como se por um instante
Eu também não fosse
apenas mais uma pessoa entre os corredores.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Meu anjo chora

Eu escuto o choro da inocência
entre as paredes pintadas de branco
Branco que por sua vez não traz paz
nem amor, nem felicidade
Apenas deixa que o habite ali
e arraste-se para longe
Longe de onde a maldade ainda reina
e em seu reinado lhe tira o pouco
E do pouco que se vai
ainda lhe resta uma fagulha
Mas a fagulha não é boa
ela se arrasta, se procria
Ela destrói
E o que te resta, pequeno anjo
é o teu choro que escuto
pois tua inocência agora pinta minhas paredes
E paredes não trazem paz
nem amor, nem felicidade
Apenas deixam que tu habites ali
e de tanto habita-las
Deixou de habitar a ti