“Quando cheguei ao fim
da floresta deparei-me com Geórgia, ela estava presa em uma jaula a vários
metros de altura pedindo por ajuda, enquanto Luke balançava-se de um lado para
o outro, repetindo para si mesmo o quanto era um péssimo sátiro.
Se não bastasse tudo isso Sebastian havia desaparecido há algum tempo atrás e
eu não conseguira encontra-lo. Eu estava com um péssimo pressentimento, sabia
que precisava tirar-nos daquela confusão, apenas não sabia como.
A propósito, acho que adiantei as coisas demais. Aliás, meu nome é Taiga
Scarlet, tenho 15 anos e minha vida está de cabeça para baixo.”
Taiga acordou uma hora antes de seu despertador tocar, havia sonhado que
estava flutuando acima das nuvens e que no meio das estrelas o rosto de uma
mulher sorria para ela, dizendo: “Sem o
sol ninguém poderá viver, junte-se a mim, e veja a escuridão do olimpo”. Aquele
sonho havia ficado em seus pensamentos, e por causa do mesmo não conseguia mais
dormir. Depois de longos minutos encarando o teto de seu quarto resolveu
levantar-se. Pela janela pôde ver o sol nascendo no horizonte, “foi apenas um
sonho, é claro que ainda temos o sol, sempre teremos” pensou, “sonhos são
apenas sonhos”.
A menina caminhou em direção ao seu guarda-roupa e trocou seu pijama por um
vestido branco e suas pantufas por seu par de tênis preferidos, em seguida
procurou por sua mochila, cujo qual não achou.
Saiu do quarto e foi até a cozinha, onde se sentou em um dos bancos do balcão e
pegou uma maçã. Ficou ali, encarando a fruta e ainda pensando em seu sonho.
– Acordada tão cedo? – Perguntou
Nathalie, rindo e tirando Taiga de seus pensamentos – Quem é você o que você
fez com minha irmã?
– Você poderia me dizer se sabe onde está minha mochila? – Taiga perguntou,
ignorando o comentário da irmã que havia acabado de chegar
– Mamãe deixou em cima do sofá, ela disse que colocou algumas coisas que você
vai precisar.
– Certou, estou indo para a escola. – a menina disse, sua voz era doce e calma.
Quando Taiga chegou à escola, fora direto para a sala de aula, era dia de prova
e a menina queria ter certeza de chegar a tempo. Sentou-se na última mesa, como
de costume, Geórgia já havia chegado e parecia concentrada em seu livro sobre
as pirâmides egípcias e sua arquitetura.
– Bom dia, bela adormecida. – disse Geórgia, ainda concentrada em seu livro – Não deveria estar em casa dormindo e chegar atrasada como de costume? –
Perguntou, irônica.
Geórgia tinha os olhos cinza, como uma tempestade, o que ajudava bastante em
seu comportamento irônico. Seus cabelos
eram loiros, cacheados e compridos, e sua pele era branca como a neve.
– Você tem razão, eu devia estar em casa dormindo. – Taiga respondeu em um tom
baixo, e em seguida encostou-se na parede, fechando os olhos
– Pelo menos estudou para a prova? – a menina abaixou seu livro
– Não, não. – respondeu, despreocupada.
Pouco depois o professor entrou na sala de aula, não olhou para nenhum de seus
alunos, apenas distribuiu as provas, sentou-se em seu lugar e falou alto:
– São 30 minutos, após o termino desse tempo recolherei as provas.
Taiga pegou uma caneta e começou a responder sua prova, eram apenas três
perguntas, não demorou muito e já havia terminado, abaixou a cabeça e
começou a dormir.
A menina sonhou que estava em um sótão, onde havia um menino sentado
desenhando, ela caminhou em sua direção e abaixou-se ao seu lado, mas o menino
parecia não notá-la.
– Quem é você? – Taiga perguntou
Não houve uma resposta, o menino continuou sentado, desenhando. Ele tinha os
cabelos mal cortados e escuros, que caiam sobre seus olhos. Sua pele era extremamente clara, o que fazia com que ele se parecesse com um fantasma.
– Fale comigo, por favor. – sua voz era calma, mas parecia suplicar ao menino
que dissesse algo
“Ele não pode te ver, nem te escutar. Isso é uma visão, Scarlet.” Uma voz a
respondeu.
Taiga sentou-se no chão de madeira do sótão, o menino havia largado o lápis ao
seu lado e agora encarava a parede a sua frente.
– O que você estava desenhando? – Scarlet falou, mesmo sabendo que o menino não
a escutaria.
Ela inclinou-se um pouco para frente, olhando a folha de papel, onde havia o
desenho de um rio em preto e branco. O menino puxou a folha para o lado, ainda
encarando a parede, revelando outra folha com outro desenho, esse colorido.
Quando Taiga fora olhar, o menino tampara o desenho com sua mão esquerda.
Taiga estava ficando curiosa, sentia que precisava saber o que estava naquela
folha. Engatinhou até a frente do menino, tocou sua mão de leve, afastando-a
para o lado. O menino pareceu notar o toque da garota, pois abaixou seus olhos
para o desenho.
– Pai, quem é ela? – ele perguntou, fazendo Taiga recuar para trás
“Não se preocupe, lembre-se que ele não pode te escutar, tampouco te ver. Olhe
logo o desenho, mate sua curiosidade.” A voz disse novamente.
Taiga olhou para a folha, nela estava desenhada uma menina de olhos verdes
azulados e bochechas salientes. Os cabelos da menina iam até sua cintura, eram
escuros e cacheados. O corpo da garota era pequeno e magro, trajava um vestido
branco que parecia sujo e desgastado, e em seu pescoço podia-se notar um colar
com o nome Scarlet.
Taiga levantou-se em um pulo, recuando para trás. Ela era a garota do desenho.
– Porque você me desenhou? – a menina perguntou, com a voz calma, enquanto o
menino abraçava seu próprio corpo e começava a chorar.
Taiga acordou com Geórgia a cutucando.
– O que houve? – a menina perguntou, abrindo os olhos devagar
– É impressão minha, ou vai chover? – Geórgia perguntou, enquanto mexia em seus
cabelos loiros
– Chover? – Taiga passou a mão no rosto, notando a falta de algo – Onde está
meu óculos?
–Você não veio com ele hoje. – Geórgia disse, encarando a amiga – Aliás, você
não me respondeu.
– “Nau”! – ela exclamou, olhando para o céu – As nuvens estão ficando cinza,
tudo está ficando escuro, – a menina bocejou, fazendo Geórgia bocejar também –
acredito que vá chover. – concluiu, sorrindo.
As duas ficaram conversando sobre assuntos aleatórios, até a sala começar a
ficar escura de mais. Taiga olhou, pela janela, o céu lá fora. As nuvens
ficavam cada vez mais cinzas, e parecia estar anoitecendo.
– O que está ocorrendo? – a menina perguntou, ainda com a voz calma
– Isso não me parece um fenômeno natural. – comentou Geórgia, e em seguida o céu foi tomado por total escuridão.