quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cinco pilulas, cinco memorias.

Ela parou em frente ao espelho, ajeitando-se uma última vez. O vestido preto de renda lhe caia muito bem e contrastava com o cordão em seu pescoço.
Passou mais algumas camadas de rímel nos cílios e soltou o cabelo, que caiu sobre seu ombro em cachos de um tom azul desbotado.
Mais uma olhada em seu próprio reflexo e estava pronta. Caminhou em direção a cama e sentou-se na mesma, em frente as cinco pilulas de algum remédio tarja preta que havia custado a conseguir dias atrás.
Cinco pilulas, cinco memorias.
Respirou fundo e tomou a primeira. Era uma memoria antiga, de sua infância. Estava sentada na garagem de casa, observando a rua vazia. Não costumava ter amigos naquela época, então ela havia o inventado, com aquele sorriso encantador e os olhos pretos profundos. Ele a fazia companhia em seus momentos de solidão, estivera ali por muito tempo, até os seus oito anos.
Tomou a segunda pilula e lembrou-se de como se sentia antes de tê-lo encontrado de verdade, sem ser em seus devaneios de criança solitária. Ela havia estado perdida por muito tempo.
A terceira pilula lhe trouxe a memoria da primeira vez que o encontrou. Estava na escola, a principio não reconhecera aquele sorriso que tanto a acalmara a tempos atrás.
Suspirou, as lagrimas teimando em escorrer pelo seu rosto. Tomou a quarta pilula, não poderia mais voltar atrás agora. Lembrou-se dos momentos com ele. Do abraço dele a reconfortando nos piores momentos, da voz dele a fazendo rir, do formigamento que sentia nas pontas dos dedos toda vez que o beijava.
Então tomou a quinta pilula e era como se ele estivesse ali com ela, segurando sua mão, fazendo-a acreditar que tudo daria certo.
Deitou-se na cama, apegando-se aquela última lembrança. Havia chegado a hora, ela sabia. Então deu o seu último suspiro e fechou os olhos.

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