23
de novembro de 2016
Querido Amigo,
Hoje foi um dia muito triste.
Não que os outros não tenham sido, não me entenda mal, mas este foi pior.
Voltei a ir para a escola. Meu
pai me deixou lá de carro, ele ainda tem medo de que eu me esqueça para onde
vou e acabe me perdendo por aí, mesmo que os médicos tenham dito que isso provavelmente
não voltará a ocorrer.
Quando desci do carro fiquei
um pouco confusa, porque não me lembrava de onde era a minha sala de aula. Mas
tudo bem, porque antes eu precisava contar aos meus amigos o que estava
acontecendo. Foi aí que o dia ficou muito triste. Acho que eu nunca havia visto
Hazel chorar tanto como quando eu a contei. E depois Geórgia e Sam se juntaram
a ela. As três me abraçaram e nós choramos juntas por um bom tempo, até o sinal
tocar.
Foi aí que eu contei a Hazel
que eu havia me esquecido de onde era a nossa sala de aula, e em vez de chorar,
ela riu. Abraçou-me forte mais uma vez e simplesmente disse:
“Acho que isso foi a melhor
coisa que você me falou hoje”.
Então ela me levou para fora
da escola e matamos os dois primeiros horários em uma lanchonete que tinha ali
perto. Não vou mentir e dizer que nunca havia feito aquilo antes, porque era
algo comum para nós, mas naquele momento era diferente. Era um momento só
nosso, porque acho que ela também tem medo de que eu me esqueça dela.
Depois disso voltamos para a
escola e eu não havia feito nenhum dever de casa. Acho que meus pais já haviam
conversado com os professores, porque nenhum deles me deu sermão por não ter
feito nada. Talvez o Alzheimer tenha seu lado bom. Bem, foi o que eu pensei até
chegar em casa.
Nate foi comigo até minha casa. Ele
disse que faria isso todos os dias, porque se preocupava comigo e queria me ver
bem. Aquilo me deixou muito feliz, então eu o beijei e perguntei se ele
gostaria de jantar comigo esta noite. Ele aceitou e nós entramos em casa.
Meus pais não estavam em
casa, como sempre eles chegariam tarde, pois o trabalho exige muito deles. Desde
o ano passado minha irmã tem morado com o namorado, então eu fico a maior parte
do meu tempo sozinha.
De qualquer jeito, quando
chegamos subimos ao meu quarto para deixar as mochilas. Era a quinta vez que
Nate ia a minha casa, então ele já sabia o caminho. Não que eu tivesse me
esquecido. Em fim, quando cheguei a meu quarto fiquei surpresa porque havia um
cachorro ali e eu não me recordava de ter nenhum animal de estimação.
Perguntei se Nate sabia sobre
o cachorro e ele me olhou de uma forma que me dói só de lembrar. Então ele se
sentou na cama, me puxando para o seu lado, e disse-me que aquele era meu
cachorro Nick e que já faziam cinco anos que ele estava comigo.
Não consegui me conter e
comecei a chorar.
“Está tudo bem, não precisa
chorar.” Nate falava enquanto me abraçava.
Quando eu me acalmei nós
dois descemos para a cozinha e fizemos o jantar: macarrão com almôndegas. Nate
fez a maior parte, porque eu nunca soube cozinhar. Estava muito gostoso, talvez
até melhor que o hambúrguer de bacon.
Agora eu estou sentada na
varanda do meu quarto junto de Nate. Ele que me deu a ideia de te escrever
agora, porque eu contei de você para ele e ele acha que a nossa primeira
refeição cozinhada juntos é uma memória muito importante. E ele tem razão, é
uma memória que eu não quero esquecer.
Com amor,
Cassie.
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