sexta-feira, 8 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - II

23 de novembro de 2016

Querido Amigo,
          Hoje foi um dia muito triste. Não que os outros não tenham sido, não me entenda mal, mas este foi pior.
           Voltei a ir para a escola. Meu pai me deixou lá de carro, ele ainda tem medo de que eu me esqueça para onde vou e acabe me perdendo por aí, mesmo que os médicos tenham dito que isso provavelmente não voltará a ocorrer.
            Quando desci do carro fiquei um pouco confusa, porque não me lembrava de onde era a minha sala de aula. Mas tudo bem, porque antes eu precisava contar aos meus amigos o que estava acontecendo. Foi aí que o dia ficou muito triste. Acho que eu nunca havia visto Hazel chorar tanto como quando eu a contei. E depois Geórgia e Sam se juntaram a ela. As três me abraçaram e nós choramos juntas por um bom tempo, até o sinal tocar.
            Foi aí que eu contei a Hazel que eu havia me esquecido de onde era a nossa sala de aula, e em vez de chorar, ela riu. Abraçou-me forte mais uma vez e simplesmente disse:
            “Acho que isso foi a melhor coisa que você me falou hoje”.
             Então ela me levou para fora da escola e matamos os dois primeiros horários em uma lanchonete que tinha ali perto. Não vou mentir e dizer que nunca havia feito aquilo antes, porque era algo comum para nós, mas naquele momento era diferente. Era um momento só nosso, porque acho que ela também tem medo de que eu me esqueça dela.
             Depois disso voltamos para a escola e eu não havia feito nenhum dever de casa. Acho que meus pais já haviam conversado com os professores, porque nenhum deles me deu sermão por não ter feito nada. Talvez o Alzheimer tenha seu lado bom. Bem, foi o que eu pensei até chegar em casa.
              Nate foi comigo até minha casa. Ele disse que faria isso todos os dias, porque se preocupava comigo e queria me ver bem. Aquilo me deixou muito feliz, então eu o beijei e perguntei se ele gostaria de jantar comigo esta noite. Ele aceitou e nós entramos em casa.
              Meus pais não estavam em casa, como sempre eles chegariam tarde, pois o trabalho exige muito deles. Desde o ano passado minha irmã tem morado com o namorado, então eu fico a maior parte do meu tempo sozinha.
              De qualquer jeito, quando chegamos subimos ao meu quarto para deixar as mochilas. Era a quinta vez que Nate ia a minha casa, então ele já sabia o caminho. Não que eu tivesse me esquecido. Em fim, quando cheguei a meu quarto fiquei surpresa porque havia um cachorro ali e eu não me recordava de ter nenhum animal de estimação.
             Perguntei se Nate sabia sobre o cachorro e ele me olhou de uma forma que me dói só de lembrar. Então ele se sentou na cama, me puxando para o seu lado, e disse-me que aquele era meu cachorro Nick e que já faziam cinco anos que ele estava comigo.
             Não consegui me conter e comecei a chorar.
             “Está tudo bem, não precisa chorar.” Nate falava enquanto me abraçava.
             Quando eu me acalmei nós dois descemos para a cozinha e fizemos o jantar: macarrão com almôndegas. Nate fez a maior parte, porque eu nunca soube cozinhar. Estava muito gostoso, talvez até melhor que o hambúrguer de bacon.
              Agora eu estou sentada na varanda do meu quarto junto de Nate. Ele que me deu a ideia de te escrever agora, porque eu contei de você para ele e ele acha que a nossa primeira refeição cozinhada juntos é uma memória muito importante. E ele tem razão, é uma memória que eu não quero esquecer.

                                                                                                                    Com amor,
                                                                                                                                   Cassie.

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