sexta-feira, 8 de novembro de 2013

As Memórias de Cassandra - I

18 de novembro de 2016

Querido Amigo,
           Estou escrevendo porque não quero esquecer. Eu sei que isto não deve estar fazendo muito sentido para você, já que não me conhece, mas eu preciso saber que existe alguém capaz de guardar minhas memórias.
            E não me pergunte o porquê, mas eu acho que você entenderá o que anda se passando comigo e acolherá minhas memórias. Antes que eu me apresente peço que, por favor, não responda as cartas. Eu provavelmente me esquecerei disso também.
            Meu nome é Cassandra, tenho 16 anos e sofro do Mal de Alzheimer.
            Quando eu tinha 13 anos costumava esquecer muito as coisas. Esquecia o dever de casa, o que havia comido no jantar de ontem, em que dia tal coisa havia acontecido. Pareciam coisas normais de se esquecer, acho que ninguém realmente imaginava o que estava para acontecer. Exceto Near. Acho que no fundo ele sempre soube, por isso sempre falava sobre o Minotauro que vivia em minha cabeça, sempre comendo minhas memórias. Ele me dizia para ser forte, que com uma memória feliz o suficiente eu mataria o Minotauro.
            O dia em que eu descobri que o Minotauro na verdade era uma doença foi horrível. Foi semana passada, na sexta-feira. Eu havia saído da escola e estava indo em direção à parada de ônibus quando me esqueci de onde morava. Isso mesmo, eu simplesmente me esqueci. Lembro-me de ter ficado olhando para as pessoas em minha volta, atônita, até começar a chorar. E chorei muito, porque estava sozinha.
            Desde sexta-feira meus dias tem sido tortuosos. Fiz muitos exames para que os médicos tivessem certeza de qual era o meu problema e então, depois de três dias, eles me contaram sobre o Mal de Alzheimer. Lembro de ter chorado muito nesse dia.
            Aliás, desde que tudo aconteceu, eu só tenho chorado. Mas tem esse garoto, o Near. Como eu já falei antes, eu o conheci quando tinha 13 anos e me apaixonei perdidamente. Claro que naquela época eu ainda não entendia muito bem o que estava sentindo, mas agora eu entendo. Entendo que o amo. Acho que ele é um dos motivos de eu estar escrevendo, não quero esquecê-lo nunca. Ele tem me ajudado muito, como sempre me ajudou. É um ótimo namorado, uma ótima pessoa, e acima de tudo, um ótimo amigo. Eu gostaria que você o conhecesse, tenho certeza que o amaria tanto quanto eu.
            Uma das coisas que eu mais gosto do Near é de quando ele me leva para a Praça dos Três Anjos. Fica perto de nossa escola e fazemos isso desde que nos conhecemos. Nós ficamos lá fazendo nada a maior parte do tempo, mas é muito divertido estar com ele. Eu fico observando a forma que ele sorri, o jeito que ele fala e como ele costuma me olhar quando eu conto alguma história de algum livro que li. Gosto muito também de quando ele me abraça e do cheiro dele. Não quero esquecer o cheiro dele.
              Vou ter que parar de escrever agora, porque estou chorando muito novamente e não quero que a folha chegue toda enrugada até você. Desculpe-me por isso.
             
                                                                                                              Com amor,
                                                                                                                             Cassie.

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