quarta-feira, 21 de maio de 2014

Mãe, me diz que dor é essa?

Levaram minha felicidade quando ela foi embora
E eu tenho culpado todo mundo
Quando, na verdade, a culpa é minha
Porque me calei quando tinha que tê-la defendido

Mãe, faça as malas
Vamos embora daqui
Preciso fugir da minha própria tristeza
Porque estou me afundando em algum lugar daqui

Eu sei que tem algum lugar onde eu possa me esconder
E nesse lugar eu saberei que as estrelas brilharão por ela
Assim como eu não pude fazer

Mãe, tem uma dor dentro de mim
E ela está me matando
Mãe, faça as malas
Eu tenho que fugir daqui

Não posso mais conviver com meus erros
Eles dizem que não mereço viver
Preciso de um lugar só meu
Para chorar e ninguém me perguntar o por quê
Pois não posso responder
Que a culpa de toda a dor
É minha...

terça-feira, 8 de abril de 2014

o amor não é para todos - texto antigo do dia 08 de abril de 2014

A história que hoje irei contar para você aconteceu com meu melhor amigo. Antes de qualquer coisa, saiba que você deverá manter tudo em segredo absoluto, uma vez que vocês, humanos, não podem saber de nossa existência. E é exatamente por isso que tudo veio por água abaixo.
Richard sempre foi muito brincalhão para um Imortal. Costumávamos passar os dias falando sobre besteiras e sobre como os humanos se achavam superiores, quando na verdade controlávamos-os na palma de nossas mãos. Ele também costumava desprezar os humanos, não conseguia sentir apreensão ou outro sentimento por qualquer um deles.
Foi assim por muitos anos, até nós a encontrarmos.
Era um dia chuvoso e nós andávamos em um parque qualquer. Como sempre, não havia muitos humanos ali, já que por algum motivo vocês costumam fugir da chuva.
Chegávamos perto de uma das maiores árvores do local quando a vimos. Estava sentada na grama, com a cabeça baixa. Estava encharcada, provavelmente caia mais água de suas roupas e cabelo do que do próprio céu. Ela tinha um sorriso doce no rosto, mas eu podia jurar que chorava.
Por algum motivo senti que ela era diferente dos outros humanos, e acho que Richard também sentiu isso, pois ele caminhou até ela, colocando o próprio guarda-chuva sobre ela, evitando que a chuva continuasse molhando-a.
- Oi. - ela falou, o olhando. - Sou Luna.
- Richard. - ele a olhou de volta - Levante-se. Vamos tomar chocolate quente.
Luna pareceu pensar por um tempo.
- Só vou se tiver marshmallow.
- Tá.
- Prometa! - ela gritou e Richard pareceu se assustar, então a garota começou a rir e se levantou - Vai prometer? - dessa vez falou baixinho
- Prometo.
Então Richard sorriu. A primeira vez que sorria para um humano.

O tempo foi passando e Richard continuou a se encontrar com Luna. Todas as noites, antes de dormimos, ele me contava mais sobre ela.
Luna tinha uma doença no coração. Ela precisava de um transplante, pois seu coração ficava mais fraco a cada dia. O maior problema é que os médicos diziam que seu corpo era muito fraco e que ela não resistiria a cirurgia. A melhor opção era apenas esperar.
- Ela sente muita dor. - Richard disse certa vez - As vezes - ele fez uma pausa, como se pensasse - ela começa a chorar, mas continua sorrindo. Ela tenta ser forte, mas é difícil. Ela sabe que estou escondendo algo dela e isso faz com que eu queira contar toda a verdade porque talvez isso faça com que ela saiba que pode confiar em mim. Ela é uma garota muito solitária, sabe? Não suporto saber que talvez ela morra sem saber o que é confiar e amar alguém com toda a sua força.
Naquela noite eu não consegui dormir. Fiquei pensando sobre o que Rich havia me falado. Saber sobre a nossa imortalidade é capaz de matar os humanos, pois eles não aguentam carregar a maldição da verdade.
Mas Luna já estava morrendo, não é mesmo? Decidi contar sobre esses meus pensamentos para meu amigo assim que amanhecesse.

Richard contou a verdade para Luna no dia seguinte. Ela acreditou assim que soube.
Na primeira semana que se passou, a saúde dela estava muito melhor. Tanto eu quanto Rich achávamos que o fato dela saber a verdade era o responsável por isso.
Continuamos com a nossa rotina noturna. Eu gostava de ouvir sobre o dia dos dois. Luna parecia ser realmente diferente dos outros humanos, apesar dos seus vinte e um anos e os afazeres da faculdade e do trabalho, ela vivia brincando. Gostava de correr pelo parque, de dançar na chuva, pular em poças de água. Sempre que via uma criança conversava com ela e lhe contava histórias sobre um mundo distante. Ela não era amarga, não sentia ódio e tinha uma capacidade de perdoar impressionante. Mas mesmo assim, eu não conseguia entender como Richard havia conseguido amá-la.
Na segunda semana a saúde de Luna piorou. Ela mal conseguia sair da cama. Lembro-me de ter ido visitá-la uma vez. O sorriso doce que lembro ter visto no dia em que a encontramos ainda estava lá, mas seus olhos eram tristonhos.
O tempo continuou passando e as coisas só pioravam. Richard pretendia abrir mão de sua imortalidade, "se é para vê-la morrendo então gostaria de morrer ao lado dela", era o que ele costumava dizer.
Tentei impedi-lo de diversas maneiras, mas não consegui.
- A culpa de tudo isso é sua. - ele falava - Você me fez contar para ela sobre minha imortalidade, isso foi de mais para ela! Agora ela está morrendo.
Era tarde de mais para que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele havia se rendido ao amor.

Richard desistiu de sua imortalidade no dia 15 de abril e passou a viver ao lado de Luna. Antes que você espere por mais, saiba que a história não irá muito mais longe, ela acaba por aqui.
Você deve está se perguntando por que te contei tudo isso. Bem, eu precisava compartilhar minha maldição com alguém.
E não me refiro a maldição da verdade. Há algo muito pior do que isso: uma vida sem acreditar no amor.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Lembranças do frio de outono

Annie sentou-se embaixo de uma árvore com folhas amareladas. A grama estava fria, assim como o dia em si. Ventava fraco naquela parte do parque, mas era o suficiente para fazer com que a garota abraçasse o próprio corpo.
Olhou para o céu, cada vez mais escuro. Provavelmente choveria em breve.
- Olá. - escutou a voz de André e olhou para os lados, em busca do garoto - Estou aqui, boboca.
Annie olhou para cima e deparou-se com o garoto sentado em um dos galhos da árvore. Não conseguiu evitar em se sentir muito feliz ao ver o namorado.
- Oi. - ela sorriu, as bochechas corando - Esteve aí o tempo todo?
- Estava esperando por você.
Ele desceu da árvore, parando ao lado da garota e a ajudando a se levantar. Olhou-a por alguns instantes e afastou uma mecha do cabelo que caia sobre as bochechas coradas de Annie.
- Então... - André sorriu - Está com frio?
- Um pouco...
- O que achas de pique-pega?
Annie olhou para os lados e então para André, e com um sorriso malicioso no rosto, o empurrou.
- Está com você! - disse, correndo para longe.
André riu e correu atrás dela. Logo a alcançou, a puxando pela cintura.
- Peguei você.
- De novo. - Annie colocou os braços ao redor do garoto.
- De novo. - ele repetiu e a beijou - O que quer fazer agora?
- É mais fácil perguntar o que eu não quero fazer. - a garota se encolheu ao sentir o sangue esfriando e o frio voltando, aproximou-se mais de André e sentiu o cheiro de roupa recém-lavada que o garoto tinha e do qual tanto gostava.
- E o que você não quer fazer?
- Não quero mais fugir de você.
André sorriu e a beijou de novo, puxando-a para um abraço.
- Tudo bem. Eu posso esquentar você.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Por trás daquele par de óculos havia amor.

Ela não podia entender o que se passava por trás daquele par de óculos. Por isso sentou-se encostada na parede, observando-o.
Queria mantê-lo perto ao mesmo tempo que o queria longe. Não podia lidar com aquilo, passava noites acordada pensando e pensando, e a nenhuma conclusão chegava.
Fechou os olhos, respirou fundo. A musica que fluía dos fones de ouvido nada significava.
Ele se sentou ao lado dela, com um meio sorriso no rosto.
- Ane?
Ela abriu os olhos e o encarou.
- O que? - ela perguntou, mordendo o lábio inferior, tentando conter os sentimentos que tumultuavam sua mente.
- Nada.
Os dois ficaram em silencio, apenas se observando. Um silencio cheio de palavras não ditas.
Ele se levantou, pronto para ir embora.
- Gabriel. - Ane o chamou - Espere.
Ela o olhou nos olhos mais uma vez. Realmente não podia entender o que se passava por trás daquele par de óculos, mas prometeu para si mesma que tentaria.
Aproximou-se dele, as mãos brincando com a manga do casaco, as bochechas corando a medida que a distancia entre os dois ia diminuindo.
- O que? - ele sorriu de lado, também a olhando nos olhos
- Apenas espere.
E então ele a beijou.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Um conto para aqueles que se apaixonam pelos sonhos

Remexeu-se na cama, enrolando-se na coberta, ainda embebedada de sono. Abriu os olhos e focou na janela aberta, os raios de sol da manhã entrepassando os galhos da árvore ao lado e chegando ao seu rosto gélido do frio de outono.
O sonho que tivera ainda passava em sua mente, conseguia lembrar de cada detalhe. O parque cheio de árvores, as folhas caindo sobre a grama devido a estação do ano, o balanço de madeira indo e voltando com o vento, e ele. Ele sempre estava em seus sonhos, mesmo sem conhecê-lo. Era sempre ele. O mesmo rosto pálido, os olhos escuros, o sorriso fraco. Quando acordava conseguia sentir seu cheiro e o calor que emanava.
Levantou da cama e se espreguiçou. Ainda estava vestida com a mesma roupa da noite passada: calça preta e moletom da sua banda preferida. Calçou o primeiro par de tênis que achou, colocou uma touca azul e saiu pela janela.
A rua estava vazia e se sentiu feliz por isso. Não queria ter que parar para falar com os vizinhos, estava cansada daquele velho papo de "Olá Ane, como estão os estudos?" de sempre.
Caminhou até a estação de metrô, sentindo o vento no rosto. Sabia que suas bochechas deviam estar vermelhas. Elas sempre ficavam vermelhas no frio.
A estação estava cheia. Várias pessoas andavam apressadas, mentes vazias seguindo uma rotina. No meio de tantos rostos procurou por ele, mas não o encontrou. Sentiu os estomago revirar.
Pegou o metrô e desceu em uma estação qualquer. Andou pelas ruas, olhando as casas ao seu redor. Ele podia estar em qualquer uma delas.
Continuou caminhando até chegar no parque perto de casa. O frio só aumentava e agora ela abraçava a si própria.
Caminhou entre as árvores até sentir o cheiro dele. Não conseguia encontrá-lo, mas sabia que ele havia estado ali. Era o mesmo cheiro de todas as manhãs. O cheiro que a fazia se sentir bem.
Avistou um balanço de madeira e sentou-se no mesmo. Passou a mão pela corrente já enferrujada e balançou-se de leve.
- Onde você está? - falou baixo - Eu preciso de você aqui.
Ao entardecer, quando o sol começou a se esconder novamente, voltou para casa. Entrou pela janela, tirou o tênis e deitou-se na cama. Puxou as cobertas e se perdeu no meio dos vários travesseiros.
Fechou os olhos e cantou baixinho até cair no sono. E lá estava ele, com o sorriso fraco no rosto, as mãos no bolso do moletom, fitando-a com seus olhos escuros.
- Anezinha - ele a chamou - Obrigado por continuar procurando por mim. - falou, aproximando-se dela e a abraçando

Remexeu-se na cama, enrolando-se na coberta. Abriu os olhos e encarou a janela aberta. Os primeiros raios do dia aparecendo, entrepassando os galhos da árvore ao lado, aquecendo a manhã gélida de outono.
Levantou e espreguiçou-se, o sonho que tivera ainda vivido em sua mente. A voz dele continuava ecoando. Precisava encontrá-lo agora mais do que nunca.
Trocou de moletom e calçou o primeiro par de tênis que achou. Colocou uma touca rosa e saiu pela janela.