terça-feira, 8 de abril de 2014

o amor não é para todos - texto antigo do dia 08 de abril de 2014

A história que hoje irei contar para você aconteceu com meu melhor amigo. Antes de qualquer coisa, saiba que você deverá manter tudo em segredo absoluto, uma vez que vocês, humanos, não podem saber de nossa existência. E é exatamente por isso que tudo veio por água abaixo.
Richard sempre foi muito brincalhão para um Imortal. Costumávamos passar os dias falando sobre besteiras e sobre como os humanos se achavam superiores, quando na verdade controlávamos-os na palma de nossas mãos. Ele também costumava desprezar os humanos, não conseguia sentir apreensão ou outro sentimento por qualquer um deles.
Foi assim por muitos anos, até nós a encontrarmos.
Era um dia chuvoso e nós andávamos em um parque qualquer. Como sempre, não havia muitos humanos ali, já que por algum motivo vocês costumam fugir da chuva.
Chegávamos perto de uma das maiores árvores do local quando a vimos. Estava sentada na grama, com a cabeça baixa. Estava encharcada, provavelmente caia mais água de suas roupas e cabelo do que do próprio céu. Ela tinha um sorriso doce no rosto, mas eu podia jurar que chorava.
Por algum motivo senti que ela era diferente dos outros humanos, e acho que Richard também sentiu isso, pois ele caminhou até ela, colocando o próprio guarda-chuva sobre ela, evitando que a chuva continuasse molhando-a.
- Oi. - ela falou, o olhando. - Sou Luna.
- Richard. - ele a olhou de volta - Levante-se. Vamos tomar chocolate quente.
Luna pareceu pensar por um tempo.
- Só vou se tiver marshmallow.
- Tá.
- Prometa! - ela gritou e Richard pareceu se assustar, então a garota começou a rir e se levantou - Vai prometer? - dessa vez falou baixinho
- Prometo.
Então Richard sorriu. A primeira vez que sorria para um humano.

O tempo foi passando e Richard continuou a se encontrar com Luna. Todas as noites, antes de dormimos, ele me contava mais sobre ela.
Luna tinha uma doença no coração. Ela precisava de um transplante, pois seu coração ficava mais fraco a cada dia. O maior problema é que os médicos diziam que seu corpo era muito fraco e que ela não resistiria a cirurgia. A melhor opção era apenas esperar.
- Ela sente muita dor. - Richard disse certa vez - As vezes - ele fez uma pausa, como se pensasse - ela começa a chorar, mas continua sorrindo. Ela tenta ser forte, mas é difícil. Ela sabe que estou escondendo algo dela e isso faz com que eu queira contar toda a verdade porque talvez isso faça com que ela saiba que pode confiar em mim. Ela é uma garota muito solitária, sabe? Não suporto saber que talvez ela morra sem saber o que é confiar e amar alguém com toda a sua força.
Naquela noite eu não consegui dormir. Fiquei pensando sobre o que Rich havia me falado. Saber sobre a nossa imortalidade é capaz de matar os humanos, pois eles não aguentam carregar a maldição da verdade.
Mas Luna já estava morrendo, não é mesmo? Decidi contar sobre esses meus pensamentos para meu amigo assim que amanhecesse.

Richard contou a verdade para Luna no dia seguinte. Ela acreditou assim que soube.
Na primeira semana que se passou, a saúde dela estava muito melhor. Tanto eu quanto Rich achávamos que o fato dela saber a verdade era o responsável por isso.
Continuamos com a nossa rotina noturna. Eu gostava de ouvir sobre o dia dos dois. Luna parecia ser realmente diferente dos outros humanos, apesar dos seus vinte e um anos e os afazeres da faculdade e do trabalho, ela vivia brincando. Gostava de correr pelo parque, de dançar na chuva, pular em poças de água. Sempre que via uma criança conversava com ela e lhe contava histórias sobre um mundo distante. Ela não era amarga, não sentia ódio e tinha uma capacidade de perdoar impressionante. Mas mesmo assim, eu não conseguia entender como Richard havia conseguido amá-la.
Na segunda semana a saúde de Luna piorou. Ela mal conseguia sair da cama. Lembro-me de ter ido visitá-la uma vez. O sorriso doce que lembro ter visto no dia em que a encontramos ainda estava lá, mas seus olhos eram tristonhos.
O tempo continuou passando e as coisas só pioravam. Richard pretendia abrir mão de sua imortalidade, "se é para vê-la morrendo então gostaria de morrer ao lado dela", era o que ele costumava dizer.
Tentei impedi-lo de diversas maneiras, mas não consegui.
- A culpa de tudo isso é sua. - ele falava - Você me fez contar para ela sobre minha imortalidade, isso foi de mais para ela! Agora ela está morrendo.
Era tarde de mais para que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele havia se rendido ao amor.

Richard desistiu de sua imortalidade no dia 15 de abril e passou a viver ao lado de Luna. Antes que você espere por mais, saiba que a história não irá muito mais longe, ela acaba por aqui.
Você deve está se perguntando por que te contei tudo isso. Bem, eu precisava compartilhar minha maldição com alguém.
E não me refiro a maldição da verdade. Há algo muito pior do que isso: uma vida sem acreditar no amor.