quarta-feira, 15 de maio de 2013

One-shot: O Diário de uma História Transparente


Observação: Ao ler prestem atenção na ordem dos dias, pois são aleatórios. 

Dia 50

Ela me beijou. Seus lábios eram quentes e macios e o toque de sua mão em minha nuca fazia-me sentir o cara mais sortudo de todos. Quando nos separamos encostei minha testa na dela. Eu podia observar o sorriso que ela esboçava. Era o sorriso mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida, e por mais que ela o detestasse, eu nunca deixaria de amá-lo.
- Quando você encontra uma transparência igual a sua você não deve deixá-la ir embora. – falei, olhando em seus olhos – Catarina, promete que dessa vez não vai me deixar?
- Então você descobriu, não é mesmo? – ela sorriu de lado e eu sorri de volta.
Ela afastou-se de mim, sorrindo.
- Prometo que dessa vez não sairei correndo. – ela me olhou – Eu amo você!

Dia 01

Quando a vi se aproximar senti um frio subir por minha coluna vertebral.
Ela era diferente das outras garotas, tinha os cabelos escuros cortados irregularmente e os olhos cor de amêndoa brilhavam intensamente e sempre estavam delineados com muito lápis de olho. Suas bochechas eram acentuadas e levemente avermelhadas e quando ela andava parecia tomar cuidado em cada paço para que não tropeçasse. Se eu não estivesse errado seu nome era Catarina Targaryen, uma garota do primeiro ano conhecida por suas ideias alucinógenas.
- Oi, Nicolas. – ela disse, sorrindo – Aceita um chiclete? – ela completou e me mostrou a dezena de chicletes que carregava na mão
- Claro – eu disse e peguei um dos chicletes, sorrindo – Obrigado.
Ela virou-se e saiu caminhando depressa.

Dia 20

Cheguei á escola quarenta minutos adiantado. Chovia forte e vários relâmpagos atravessavam o céu. Sentei-me em um dos bancos que ficavam na entrada e comecei a observar os pingos de chuva. A escola estava vazia. Os alunos do turno matutino estavam todos em sala de aula enquanto apenas meia dúzia do turno vespertino havia chegado. Não havia muito que fazer.
Acho que haviam se passado uns dez minutos quando a Catarina chegou. Ela estava encharcada e tremia de frio. Quando ela se aproximou pude perceber que sua maquiagem estava borrada e que ela chorava.
- Cat... – falei e ela me olhou - O que aconteceu?
- Eu briguei com minha mãe. – ela respirou fundo – Acabei saindo de casa na chuva. – ela  tentava parar de chorar.
- Tudo bem. – disse, levantando-me – Vem!
Agora estávamos sentados no palco da escola. Eu havia ajudado-a a limpar a maquiagem borrada e agora ela usava seus óculos de grau no modelo aviador. Ela também havia parado de tremer e estava vestida em minha blusa de frio, que caíra perfeitamente nela. Conversávamos e riamos enquanto ela tomava o toddynho que havíamos comprado com as moedas achadas perdidas em nossas mochilas.
Eu estava apaixonado pela Catarina e não havia mais como negar.

Dia 12

O sinal do primeiro intervalo tocou e eu me sentei no palco junto de meus amigos. Eles pareciam animados conversando sobre o encontro que faríamos na casa de Marcus, que a propósito era o meu primo e tudo o que eu fazia era concordar com o que eles falavam e rir de algumas piadas sem graça, mas mesmo assim estava distraído com a conversa, tanto que nem percebi quando Catarina se aproximou.
- Nicolas! – ela chamou, sorrindo
Eu sorri de volta e parei para observá-la. Seu cabelo estava solto e jogado para o lado com uma bandana vermelha amarrada logo atrás da franja. Ela usava óculos de grau aviador e parecia que ainda tentava se acostumar com o mesmo.
- Oi. – eu falei – Você ficou legal de óculos.
Cat sorriu, boba.
- Olha o desenho que eu fiz.
Peguei o caderno de desenho de sua mão, na folha havia o desenho de uma garota sorrindo para um garoto. Seus desenhos haviam melhorado desde que eu a conheci.
- Ficou muito legal. – entreguei o caderno de volta para ela
- Obrigada! – ela continuava sorrindo – Tenho que ir agora, nos vemos depois.
Quando ela foi embora deixei escapar um sorriso. Quando voltei a prestar atenção nos meninos Pedro me encarava.
- Você está apaixonado pela Catarina?
- Apaixonado? – perguntei de volta, gargalhando – Claro que não.

Dia 33

O sinal tocou avisando o final do segundo intervalo e eu pude ver Catarina caminhando em minha direção.
Pensei que ela fosse falar comigo, mas limitou-se a apenas um olhar com um sorriso de lado. Ela parou em frente ao Pedro, falando algo em seu ouvido e os dois saíram de perto.
Meu coração batia forte e eu senti como se um buraco estivesse a se abrir em meu estomago. Acho que aquilo era o que se pode chamar de ciúmes.

Dia 15



Cheguei á casa do Marcus atrasado. Todos os garotos já haviam chegado: Pedro, Liam e Dinho. Eles estavam sentados no chão do quarto de meu primo conversando sobre garotas.
- Em falar na Catarina, olhe quem chegou! – falou Pedro, gargalhando.
- O que foi dessa vez? – Perguntei enquanto jogava minha mochila em cima da cama desarrumada
- Nada, nada. - eu o encarei – Ok, eu estava falando com a Catarina alguns segundos atrás pelo facebook.
Sentei no chão ao lado de Liam.
- O que ela falou?
- Disse que me ama.
Senti meu coração parar por alguns segundos. O quarto ficou em silencio até que os garotos começaram a rir.
- Que me ama como amigo. – ele me olhou – E o sentimento é recíproco.

Dia 40

Era o aniversario de Catarina, ela estaria completando 14 anos e eu não fazia ideia do que a dar de presente.
Acordei uma hora mais cedo que o de costume e fui até o quarto de minha irmã.
- Karen? – chamei, batendo na porta
- Pode entrar, Nico. – ela respondeu, com um sorriso nos lábios
Sentei-me na ponta de sua cama e fui direto ao ponto:
- O que você acha que a Cat gostaria de ganhar de presente de aniversario?
Karen pensou por uns instantes e falou:
- Acho que ela gostaria de ganhar uma rosa preta.
Olhei para minha irmã.
- Uma rosa preta? – e ela confirmou com a cabeça.
Quando cheguei à escola fiquei em pé em frente ao portão esperando por Catarina. Ela havia chegado cinco minutos depois de mim e seu sorriso estava radiante.
- Cat... – a abracei – Feliz aniversario!
- Obrigada, Nico!
Eu a olhei. Ela estava mais bonita do que nunca com o cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo e com uma bandana azul.
- Eu tenho um presente para você.
- Toddynho?! – ela falou um pouco mais alto, gargalhando em seguida
- Não... – a olhei de lado e entreguei a rosa preta
- Oh meu Goku! – ela pegou a flor de minha mão – É a rosa mais linda que eu já vi! Obrigada de novo!
E então ela me abraçou novamente e eu senti vontade de não soltá-la nunca mais.

Dia 06

Marcus gritava que eu passasse a bola para ele enquanto Liam pulava acenando para mim do outro lado da quadra. Fiquei olhando para os dois pensando para qual deles jogar a bola.
- Nicolas, jogue logo a bola! – a professora gritou
Acabei acertando a bola em uma garotinha que acabara de chegar á quadra.
- Ai ca-ra-lho! – ela gritou e eu reconheci aquela voz: Era Catarina.
Corri para perto dela, agachando-me ao seu lado.
- Desculpe-me! – disse sem jeito e ela olhou para mim
- Tudo bem, nem doeu... – ela sorriu e eu a encarei – Ok, é mentira, ta doendo muito! – ela sorriu e eu a ajudei a levantar
- Vem, vamos colocar gelo na sua testa antes que um galo gigante se forme. – disse e a puxei para mais perto de mim, caminhando em direção a enfermaria.

Dia 49

Peguei minha mochila e sai do meu quarto, passando na cozinha para dar tchau a minha irmã. Ela estava sentada na mesa de jantar, olhando algumas fotos.
- Ei, Nicolas! – ela me chamou – Olhe essa foto da minha turma da quinta série.
Aproximei dela até que pudesse ver a foto. Ao lado de Karen havia uma garota de sorriso largo e cabelos bagunçados que me parecia estranhamente familiar. Senti uma agitação estranha em meu estomago.
- Quem é essa? – disse apontando para a garota
- É a Catarina. – minha irmã me olhou – Não se lembra?

Dia 00

Eu devia ter por volta dos onze anos e eu estava em um corredor, caminhando em direção ao auditório da escola da minha irmã, quando esbarrei em uma garota.
- Ai ca-ra-lho! – ela exclamou
Olhei para baixo e a vi. Era pequena perto das outras garotas de sua idade, tinha as bochechas acentuadas e avermelhadas e seus olhos brilhavam intensamente.
- Desculpe-me! – falei sem graça – Eu não havia te visto.
- Como não havia me visto? Sou transparente por acaso? – ela parecia irritada
- É transparente sim!
- Não! – ela gritou – Não, não e não! – ela virou-se e saiu andando, apressadamente
- Ei garota! – eu a chamei – Ser transparente não é tão ruim assim!
Ela olhou para mim, com os olhos cheios de lagrimas.
- E o que me garante isso?
- Eu também sou transparente e só pessoas transparentes podem ver uma as outras.
- E o que mais? – ela caminhou em minha direção
- E um dia minha mãe me disse que se você encontra uma transparência igual a sua, você deve ficar com ela para sempre.
A garota sorriu.
- Você não diz coisa com coisa. – ela me olhou e tocou seus lábios no meu – Gostei de você, transparente.
E então ela correu, deixando-me para trás.

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