segunda-feira, 27 de abril de 2015

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Eu lembro que doía, olhar pra ele doía. Era algo que eu não podia explicar, a forma como ele me fazia sentir. Os olhos dele eram como uma tempestade, inundavam-me todas as vezes que nossos olhares se encontravam. Era calmo, parecia perdido em algum lugar. Sei que naquele dia, realmente estava perdido.
Percebi isso quando o vi, sentado em algum canto, olhando para os próprios pés. Usava uma blusa de frio que parecia um pouco grande para ele, as mangas tampavam as mãos, mas o sol brilhava intenso no céu e trazia calor como o abraço dele costumava fazer.
Não o abracei naquele dia. Apenas me sentei, não muito perto, e o observei, sentindo a dor que olhar pra ele causava.
- Ei - ele me olhou e desviou o olhar. Eu pude sentir minhas bochechas corarem
Arrastei-me para mais perto, controlada por uma necessidade estranha que eu sentia de estar. Apenas estar.
- Você desvia o olhar como se tivesse medo. - falei, começando a encarar meus próprios pés também.
- Talvez eu tenha medo. - ele respondeu, rápido
- Medo de que? - quis saber
- Medo de me apaixonar por você.
Meu coração parou por alguns segundos. A dor aumentando, a inquietação se formando dentro de mim, como se um buraco de minhoca se formasse em minha cabeça, fiquei em silencio por alguns segundos, ouvindo o som que meu corpo fazia, a respiração entrando em harmonia com a dele.
- Mas não seria ruim se eu também me apaixonasse por você. - finalmente respondi
- Não, não seria.
- Então não precisa ter medo.
Encarei-o. Vi quando ele sorriu ao ouvir o que eu dizia. A dor já não importava mais.

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